Um dia resolvi criar na minha cidade do interior um lugar cheio de água. Criei um lago enorme com ondas, uma vala gigante que se enchia das chuvas e dos degelos. O meu charco ganhou fama e trouxe gente no Verão. Chamaram-lhe barragem, disseram que era uma piscina falou-se da vala e as pessoas chegaram para se banhar. No Inverno, as águas foram muitas, as chuvas caíram fortes e o charco transbordou, galgou as margens que partiu, levou com ele algumas árvores e arrastou toneladas de terra até ganhar uma cor magenta. A Natureza repôs o lugar como fora outrora. Ali já não há Polis, e já não há ilusão. A natureza e a lógica das coisas são como a água do rio a correr para o mar. Nós não devíamos querer levar o mar à Covilhã, não devíamos produzir pêras no tronco da oliveira, e jamais criar um espaço de Verão num terreno frio. Tenho a convicção que uma biblioteca numa cidade sem livrarias é mau investimento, como acredito que um livro não transporta em si a cultura e o interesse. A água que tem caído voraz, se tombar no Polis da Guarda será um teste heróico a uma ideia peregrina.