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«É quase um milagre que alguns jovens escolham o sacerdócio ou o seminário como projecto de vida»

Cara a Cara – Entrevista

P – Está a comemorar-se a Semana dos Seminários. O que é que se pretende assinalar?

R – Embora o objectivo seja sempre o mesmo – pôr a Diocese a rezar pelos Seminários e alertá-la para a necessidade de saírem, das suas fileiras, jovens que abracem o ministério sacerdotal –, há temáticas de reflexão diferentes de ano para ano na Semana dos Seminários. Desta vez, por exemplo, falar-se-á muito do Seminário enquanto lugar onde se lança a semente para a vocação sacerdotal. No entanto, pretende-se sempre que a comunidade acarinhe e reze pelos Seminários e que surjam novos interessados em ingressar nas instituições.

P- Considera que os Seminários têm o futuro “ameaçado”?

R – Penso que não. É necessário fazer uma distinção entre o trabalho dos Seminários Maiores e Menores. Alguns destes, cuja função é angariar vocações, já fecharam em vários pontos do país e da Europa e há mesmo bastantes dificuldades pelo número reduzido de alunos inscritos. Já o Seminário Maior tem um estatuto completamente diferente, pois destina-se a preparar jovens que colocam, com alguma seriedade, a vida sacerdotal como futuro. Sei que em Espanha já houve um que fechou provisoriamente por falta de alunos, mas, francamente, acredito que a instituição em si, que existe há mais de 400 anos, não poderá nunca desaparecer. Até porque o seu papel na formação de candidatos ao sacerdócio não pode ser desempenhado por outra.

P- No caso da Diocese da Guarda, quantos jovens estão integrados nos dois Seminários?

R- No Seminário Menor do Fundão temos poucos alunos – apenas seis. No Maior estão actualmente 13 jovens que frequentam o curso filosófico-teológico. Além desses, acolhemos ainda sete no ensino secundário.

P – No final de Outubro foram ordenados dois jovens. A crise de vocações, de que se fala há muito, continua a ser uma realidade?

R – Desde os anos 70 que se vem falando de uma suposta crise de vocações. Mas não me parece que haja um cenário demasiado preocupante, porque houve, desde sempre, bons e maus períodos. O final dos anos 60 foi uma época complicada e mais ainda na década de 70, quando, no espaço de 10 anos, apenas houve uma ordenação na Diocese. Nas décadas seguintes assistiu-se a uma recuperação e, actualmente, estaremos provavelmente no mesmo patamar de 1980. Contudo, acredito que há boas perspectivas para os próximos anos. Enquanto Igreja, encaramos as vocações como um dom de Deus. Por isso, teremos de orar e pedir para que surjam em maior número. Uma coisa é certa: faremos sempre o melhor possível no domínio da formação.

P- Ainda assim, o que poderão fazer os Seminários para contornar esta realidade?

R- Não podemos “fabricar” as vocações, mas uma vez que os Seminários agem no domínio da formação, poderemos contribuir para transformar as vocações em ordenações efectivas. O primeiro trabalho tem que ser feito nas paróquias, pois se tiverem uma vida cristã activa, é natural que surjam rapazes com vontade de ingressar no Seminário. Então é importante cuidar da pastoral familiar, até porque estamos a assistir a uma certa “erosão” das estruturas familiares e o ambiente cristão que pautava as famílias está um pouco fragilizado. Penso que não podemos inverter a crise, mas conseguiremos sempre que haja um número razoável de famílias com vida cristã.

P – A que se deverá esta crise de vocações?

R – Desde logo prende-se com o facto das famílias serem, actualmente, menos numerosas, pelo que será menos fácil aos pais “darem” um filho à Igreja. Por outro lado, a sociedade descristianizou-se bastante, embora as pessoas continuem a ter uma certa identificação cristã. O que se passa é que agora há uma distinção entre “fé” e “pertença”. Antes, ter fé era estar vinculado à comunidade paroquial e participar nas suas actividades. Hoje tem-se fé, mas não se quer pertencer a nada. E depois há as propostas aparentemente mais atractivas que a sociedade oferece aos jovens. De tal modo que é quase um milagre que alguns ainda escolham o sacerdócio ou o seminário enquanto projecto de vida.

P – Que actividades estão a ser promovidas na Diocese nesta Semana dos Seminários?

R – Procuramos sempre levar o Seminário à comunidade e, por isso, o que estamos a realizar não se vai cingir a esta altura do ano. Naturalmente que haverá actos mais simbólicos, nomeadamente uma missa e uma adoração na cidade. No sábado, vários grupos de jovens paroquianos serão convidados a conhecer o Seminário, enquanto os seminaristas irão partilhar da sua caminhada nalgumas paróquias. No fundo, são actividades que acontecem durante o ano e não surgem a um ritmo tão intenso quanto gostaríamos porque os jovens têm uma vida académica bastante exigente.

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