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É pra vender, não é pra ler

Observatório de Ornitorrincos

Saiu há pouco tempo para as livrarias portuguesas um livro de autoria de uma francesa intitulado “Diário de uma Ninfomaníaca”. Nas entrevistas, a senhora tem garantido que ela não é uma ninfomaníaca e que nem sequer concorda com a designação. O título é apenas para chamar a atenção dos compradores. (Comigo funciona. Cada vez que o vejo nas montras compro-o. Neste momento tenho em casa dezassete exemplares.)

Na realidade, muitos dos livros que saem das editoras têm títulos criados de forma intencional para atrair públicos específicos. A seguir, são apresentados alguns livros pensados exclusivamente a partir do título da capa que poderiam muito bem aparecer nos escaparates sem qualquer conteúdo significativo (na realidade, 85% dos livros que são postos à venda).

“Não Há Peúgas de Gajo Nas Mesinhas de Cabeceira”, literatura light para recém-divorciadas que estão a tentar afastar um tipo que quer à força fazer-lhe companhia durante a noite.

“O Onírico Oneroso em O’Neill”, para estudantes de doutoramento em Estudos Económico-Poéticos (não há em Portugal, mas a escola pós-modernista está a trabalhar nisso).

“As Profundezas do Ser Confiante: a Bílis e a Auto-Estima”, um livro essencial para pessoas deprimidas, conjugando auto-ajuda e gastrologia.

“A Ruptura Social do Tendão Capitalista de Aquiles”, para sociólogos interessados na boaventurada escola do relativismo desconstrucionista solidificado.

“Lembranças Taciturnas de uma Viandante Desencontrada”, em cinco volumes, para intelectuais que apreciam ficção de escritores lúgubres centro-europeus com enorme densidade analítica.

“Eh Pá, Por Mim Tudo Bem”, “Fazes-me Azia” e “Não Há Condições”, uma trilogia para jovens adultos que só lêem livros de Margarida Rebelo Pinto e a revista Xis.

“O Espresso da Meia-Noite”, policial negro e nocturno.

“Manual do Manuel”, pequeno guia de conselhos úteis e subterfúgios legais para homens casados com vítimas da APAV.

“Mil e Uma Maneiras de Viver Sem Gajas na Cozinha”, livro de ficção científica destinado a solteiros voluntários ou contrafeitos.

“Gayzice no Pais das Armadilhas”, um livro de viagens destinado especialmente ao público homossexual.

EU VOLTEI A VER TRÊS ORNITORRINCOS

Candidatos à liderança do PS

Munido de binóculos, observei esta fauna e o seu habitat durante as últimas semanas. Vivem uma sociabilidade complexa, com fidelidades, alianças e traições sucessivas mas temporárias. No fim do processo de selecção, só um será líder e todos os que se lhe opuseram durante meses o louvarão e jurarão lealdade eterna até ao próximo momento de escolha do chefe da manada.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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