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E o Museu do Sanatório?..

Anotações

Nos períodos eleitorais há questões que são ciclicamente retomadas, dada a sua incidência junto do cidadão comum. A saúde é uma delas e, a nível da Guarda, a principal estrutura do sector tem suscitado, ao longo dos anos, particular atenção.

Durante muito tempo o poder político foi protelando a decisão de concentrar na área outrora ocupada pelo Sanatório Sousa Martins os serviços hospitalares que funcionavam no bloco da Rua Dr. Francisco dos Prazeres, em instalações pertencentes à Misericórdia da Guarda.

Apesar de alguns responsáveis pelo sector da saúde terem reconhecido que esta cidade possuía um espaço ímpar para a actividade de um bom estabelecimento hospitalar, depressa essas palavras caíam no esquecimento e os projectos encetados tinham como destino uma qualquer gaveta das secretárias ministeriais.

Ao longo de vários anos teve lugar – como muitos devem ainda estar recordados – o penoso vaivém de doentes entre o centro da cidade e o actual Parque da Saúde; a dispersão de serviços fazia disparar as despesas do hospital e dificultava o aproveitamento racional de meios humanos e técnicos, com as consequências óbvias.

A concentração de serviços, finalmente materializada, não foi feita num quadro de previsões que contemplasse um mais vasto horizonte temporal, onde ficasse garantida a articulação com novas estruturas e espaços, assegurando a identidade de uma área que durante décadas constituiu uma autêntica cidade e projectou a Guarda, dentro e fora das fronteiras nacionais.

De hesitação em hesitação, com diferenciadas directrizes político-partidárias de permeio, a Guarda assistiu, impávida e serena – salvo uma ou outra tomada de posição pública, apesar de tudo inconsistente – à progressiva degradação dos pavilhões do ex-Sanatório (inegável e insubstituível património desta terra), ao desaparecimento de muitas memórias de uma época marcante desta secular cidade.

Apontados os erros e equacionadas as soluções, o Hospital da Guarda permaneceu, durante anos, nos caminhos da indecisão governamental e serviu de arma de arremesso nos confrontos político-partidários; perdeu-se demasiado tempo, enquanto noutras zonas se trabalhou com mais rapidez e união de esforços.

Actualmente, e pesem alguns contratempos de última hora – que este jornal noticiou na última edição – o início da obras de ampliação da principal unidade hospitalar está para breve; daí que, e face à dimensão e às implicações de trabalhos deste natureza, seja importante, urgente, tomar algumas precauções relativamente ao recheio de alguns edifícios ainda erguidos no Parque da Saúde. E porquê?

Há alguns anos atrás (concretamente em 2000) uma comissão mandatada pela Administração do Hospital da Guarda efectuou o levantamento do espólio que seria destinado a um futuro Museu do Sanatório Sousa Martins, o que seria, desde logo, instituição única, com estas características, a nível nacional.

O trabalho desenvolvido, nessa altura, nos edifícios da lavandaria, oficina de carpintaria, oficina de pintura, padaria (este junto à actual helipista e supostamente ainda a funcionar como local de guarda de muito material!..), pavilhão D. António de Lencastre, edifício do Raio X, pavilhão novo e em vários serviços localizados neste bloco permitiu identificar e inventariar muitos objectos e equipamentos que pertenceram ao antigo sanatório.

Como sejam aparelhos de Raio X, equipamentos de lavandaria, equipamento médico, objectos cirúrgicos, processos médicos, mesas, armários, roupeiros, camas de cura, toucadores, cómodas, mesas de jogo, armários louceiros, cadeiras, caixas para transporte de recolha de sangue, estantes, livros, máquina de projectar filmes, piano de cauda, bengaleiros, relógios, móveis de farmácia, equipamento de apoio hospitalar, peças de cerâmicas, móvel giratório para revistas, pinturas a óleo, microscópios, balanças, cómoda “arte nova”, aparelho de pneumotorax, mobiliário diversificado, candeeiros, escrivaninhas, bancos, mobiliário dos anos 50, cadeiras de várias tipologias.

A relação do material identificado, bem como as actas das reuniões da referida comissão foram oportunamente entregues à direcção da unidade hospitalar em referência.

Há quatro anos atrás, foi anunciada, na Guarda (em véspera de eleições, diga-se) a criação do Museu da Saúde, que teria um âmbito nacional; em Novembro do passado ano, em Lisboa, foi assinado um protocolo entre o Instituto Nacional de Saúde “Doutor Ricardo Jorge” e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica com vista à implementação de um Museu da Saúde, cujo núcleo embrionário é formado – tal como foi então noticiado – por peças da colecção da Direcção Geral de Saúde “recebidas em parte dos antigos sanatórios da luta anti-tuberculose”…Recentemente foi retomada a ideia de um Museu da Saúde na Guarda.

Ou seja, corremos o risco de haver museus (da saúde, entenda-se…) a mais e peças a menos.

Neste contexto não será de acautelar, salvaguardar, o espólio existente (disperso pelos edifícios atrás mencionados) e pensar atempada e seriamente no Museu do Sanatório Sousa Martins?..

Antes que seja tarde…

Por: Hélder Sequeira

E o Museu do Sanatório?..

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