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E o desporto para todos?

No fim do passado mês, Vítor Santos, responsável pelo pelouro do desporto, anunciou a aprovação da candidatura para a construção de um mini-campo, no complexo de piscinas, com vista a prepararmos «atletas para o futuro». Segundo os últimos dados públicos do Instituto Nacional do Desporto, o número total de praticantes federados nas várias modalidades desportivas chega aos 400 mil praticantes em Portugal, o que perfaz um total de 4 % da população.

Parece-me que construir um mini-campo para apenas 4 % da população é extremamente pouco: e então os outros 96%, não têm direito ao desporto? Como afirma José Manuel Constantino, o desporto ligado ao rendimento faz parte do passado, o desporto de hoje é uma forma de lazer, de ocupação dos tempos livres, de manutenção ou melhoria da saúde e da forma física, ou ainda, faz-se pelo gosto da competição. É um novo desporto que é efémero, volátil e consumista.

A localização do campo multiusos também deveria ser tomada em conta, pois é necessário responder primeiro a algumas questões como: que população irá servir naquela zona? Será que nos próximos 15/20 anos existirão ali cidadãos, dentro da faixa etária a que se destina esse equipamento, que o possam usar? Será que (…) não faria mais sentido construí-lo noutro sítio?

Quando, por todo o país, se fala em alterar as políticas desportivas, quando a administração central promove o programa “Mexa-se” para fomentar a actividade física e ir de encontro às necessidades individuais de muitos, a nossa administração local procura desenvolver escolas para as várias modalidades desportivas que se dirigem apenas às necessidades colectivas de alguns. Para essas escolas desportivas pensa-se arranjar responsáveis para que os jovens possam seguir como exemplos. Refere Vítor Santos que já existem contactos com Inês Monteiro para a escola de atletismo.

Mas devido aos títulos conquistados por esta atleta, ou por Carlos Lopes ou Rosa Mota, não passámos a ter mais pessoas a praticar regularmente desporto. Na verdade, os níveis de obesidade não estão mais baixos, os problemas de saúde ligados ao sedentarismo têm aumentado e os níveis de colesterol subido. Será preferível termos um atleta com uma medalha de ouro, ou, tal como acontece nos países do Norte da Europa (…), que não tem qualquer preocupação em conquistar medalhas, conseguir juntar numa tarde de sábado 10 a 15 mil pessoas numa prova de orientação?

O conceito de desporto de hoje está totalmente mudado, todo o cidadão tem direito ao desporto e as autarquias, com responsabilidades para com os seus munícipes, estão política e culturalmente obrigadas a prepararem-se para dar resposta à necessidade de desporto para todos.

Daniel Domingues, (Guarda), mestrando em Lazer e Desenvolvimento Local na Universidade de Coimbra

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