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«É necessário trabalhar muito e não cruzar os braços à espera de subsídios e afins»

Cara a Cara – Entrevista

P- Negociou recentemente a FIPER do Teixoso. Por onde passará, agora, o futuro da fábrica?

R- Tenho plena consciência de que este é um sector de negócios complicado. Nesse sentido, a FIPER acaba por ser um novo desafio. No entanto, o facto de estar acompanhado do antigo director da fábrica, que é também o presidente da ANIL, e por isso um bom conhecedor do sector, é uma mais-valia. Estou bastante optimista e numa posição de tentar encontrar as melhores soluções. Para já, é um dado adquirido que a fábrica voltará a laborar, como está previsto no plano de recuperação.

P- Tendo sido sindicalista, mostrou-se desiludido num dos plenários da FIPER com o facto de sentir que, hoje, os trabalhadores se preocupam mais com o dinheiro do que em assegurar os postos de trabalho?

R- Vivemos uma situação complicada no nosso país, a todos os níveis. Mas não estou inteiramente satisfeito com o que vejo nos trabalhadores, que são a força maior deste país. Vejo cada vez mais as pessoas a fazerem contas ao imediato e essas situações nunca levam a bom porto. Despendi parte da minha vida no sindicalismo e venho de origens humildes, como é conhecido, pelo que me desilude um pouco o imediatismo que hoje se vive na classe operária. Os trabalhadores vivem num certo oportunismo, embrenhados no consumismo e sem um certo espírito crítico. Preocupa-me muito o facto de estar convicto de que se vive actualmente muito pior do que há alguns anos.

P- Adquiriu também a Garagem de S. João. Como está a decorrer o processo?

R- Estamos a falar de um processo de imobiliária pura que está a seguir os trâmites normais de aprovação. Falta ainda acertar a estética, de acordo com a lei e com os interesses da Câmara. O nosso projecto visa, e não poderia ser de outra forma, ir ao encontro de tudo aquilo que é previsto na lei, para que não mereça qualquer espécie de contestação. Em linhas gerais, pretendemos fazer um prédio que continue a ser referência na zona onde se integra. Espero que esteja pronto a inaugurar até finais de 2007.

P- Que outros projectos pretende abraçar na região?

R- Estamos a tentar modernizar a Truticultura do Paúl, uma vez que está um pouco calejada, quer do ponto de vista comercial e da rentabilidade ou na perspectiva de oferecer uma continuidade de serviços que não oferece. Para além disso, temos dois grandes projectos hoteleiros que envolvem alguns milhões de contos. Trata-se das Águas Radium (Sortelha) e do “Vale Glaciar”, na Quinta do Ourondinho. São 200 e 113 hectares, respectivamente. Queremos potenciar estes dois locais, de forma a implementar o desenvolvimento turístico. Para já, temos indicadores favoráveis e estamos a estudar os projectos com alguma sensatez, obedecendo a todas as exigências do ponto de vista ambiental e de inserção no meio. É que eu quero participar no desenvolvimento da região, mas que seja sustentado e não a qualquer preço. Acredito que, a médio prazo, o destino Serra vai adquirir consistência ao longo de todo o ano e não estará apenas virado para a neve.

P- Tendo em conta que tem negócios em várias partes do país e no estrangeiro, como vê o difícil contexto económico que a região atravessa?

R- Não é apenas a região que vive dias difíceis, mas também Portugal, o que me deixa desgostoso porque acredito que somos um país com imensas potencialidades. Reunimos todas as condições para sermos uma nação onde se viva com qualidade. Faz falta que acreditemos em nós e que entendamos que temos de trabalhar muito e não cruzar os braços à espera de subsídios e afins. É preciso que haja alguém que possa mobilizar os portugueses, que são, por natureza, generosos, sabem trabalhar e podem fazer grandes coisas.

P- É sua ambição transferir para a região onde nasceu toda a sua actividade empresarial?

R- Naturalmente que este tipo de coisas não depende de nós, até porque não se fecham empresas de um dia para o outro. No entanto, há quatro anos disse publicamente que estava a mudar-me, gradualmente, para as origens e, na verdade, estou a aliviar os negócios nalgumas zonas, reforçando-os noutras, como é o caso da região. Por outro lado, ainda não é chegado o momento, mas tenciono fazer alguns contactos com a UBI, porque sei que há lá muita gente que quer fazer projectos, mas não tem apoios. É necessário agregar o conhecimento a alguma disponibilidade financeira para desenvolver projectos inovadores e que possam catapultar a região.

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