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«É necessária e urgente mais formação para os nossos músicos»

Cara a Cara – Entrevista

P – Que razões o levam a defender a semi-profissionalização da Banda da Covilhã?

R – Uma delas é termos verificado que, nos últimos 10 anos, existe uma grande promoção do ensino artístico ao nível dos sopros e da percussão com a criação de várias escolas profissionais e academias de música, pólos de conservatórios e uma aposta cada vez com mais qualidade e rigor nas bandas filarmónicas. Isto leva a que haja mais músicos, mas que, após terminarem os cursos, não encontram mercado de trabalho. Uns ficam a dar aulas, outros vão estudar para fora, formam grupos ou integram as poucas vagas existentes nas bandas militares – que são bandas profissionais. Não existe mais mercado de trabalho para eles. Além de querermos dar resposta aos músicos que estão a ser formados em Portugal, pretendemos também dinamizar o interior do país, uma vez que existe uma grande concentração de orquestras de produção clássica no litoral e aqui não temos nada. Com a semi-profissionalização, queremos fortalecer a formação e promover a criação de novos públicos através de uma programação cultural e artística ao longo do ano.

P – Porque é que a Banda da Covilhã é diferente das outras filarmónicas do concelho, por exemplo, que vão a festas e romarias pelas aldeias, e têm um repertório diferente?

R – Pessoalmente, não sei se somos diferentes. O que digo é que aquela visão mais tradicional das bandas filarmónicas também deve continuar, uma vez que muitas dessas formações têm nas festas e romarias a sua única fonte de receitas. O que pensamos na Banda da Covilhã é que devemos dar um salto em frente através da alteração de repertórios. E, como banda de cidade – onde é difícil manter uma banda –, temos também de criar projectos e eventos que caminham para dinamizar a música filarmónica. As pessoas acabam por ficar surpreendidas com espectáculos como o “Moda e Música”, o “Covilhã em Directo” ou os “Concertos de Primavera”, em moldes que seriam impensáveis há 20 ou 30 anos.

P – Nesse sentido, o futuro da Banda da Covilhã pode passar por uma transformação em banda sinfónica?

R – Penso que não será esse o caminho. Uma banda sinfónica engloba, à partida, cerca de 70 ou 80 músicos e incorpora nas suas estruturas, além do sopro e da percussão, cordas com o contrabaixo de cordas e os violoncelos. Na Banda da Covilhã também temos essas cordas, mas não é esse o nosso caminho. Estamos centrados nos instrumentos de sopro e de percussão, pois é esse o nosso mercado e o alvo que queremos atingir.

P – O que pode mudar com a União de Bandas do Concelho da Covilhã?

R – Em Setembro vamos ter uma reunião alargada com todos os membros. Com a União podemos almejar uma maior formação para os nossos músicos, que é necessária e urgente. Queremos ainda mais divulgação no âmbito de projectos e iniciativas que podem ser levados a cabo pelas filarmónicas. Muitas vezes, as bandas encerram-se no seu mundo e desconhecem os avanços e as novidades que vão surgindo e que são cada vez mais. É preciso estarmos actualizados para podermos dar resposta às solicitações e ao que o público nos exige actualmente. Esta união de bandas passa por este empenho da Banda da Covilhã em dinamizar esta ideia e tentar que todos em conjunto – estamos a falar de 200 a 300 músicos que, com as suas famílias, são um universo de duas mil pessoas – melhorem e dignifiquem as bandas filarmónicas.

P – Ainda acha que a população da Covilhã está adormecida, ou tão adormecida como quando o disse, há ano e meio?

R – Estou a mudar um pouco de opinião. Aqui gostava de destacar o papel da Câmara, que, em boa hora, aceitou as iniciativas lançadas pela Banda da Covilhã e que têm vindo a alterar esse panorama. A cidade e o concelho são muito dinâmicos, devido às suas inúmeras associações. Ainda precisamos de afinar algumas agulhas e de consertar estratégias para não se desperdiçarem meios ou recursos humanos e financeiros. A União de Bandas permite também que haja uma concentração de recursos humanos e financeiros, diminuindo assim os custos e aumentando a qualidade.

P – Quais as novidades para o próximo ano?

R – Uma delas é o primeiro Concerto de Gala Cidade da Covilhã, que queremos lançar no âmbito das comemorações do Dia da Cidade, e que está agendado para 19 de Outubro. Queremos fazer um espectáculo inovador, pois a criatividade, acima de tudo, chama o público e espicaça as pessoas. Neste concerto estamos a tentar conjugar esforços entre a voz, a música e a dança de modo a permitir que seja um espectáculo muito amplo e com muita qualidade. Antes disso, está prevista para 1 de Outubro, Dia Internacional da Música, a inauguração oficial da Escola de Música.

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