Arquivo

«É mau para a Câmara quando os cidadãos desconfiam da sua gestão»

Eduardo Espírito Santo, candidato do MRPP à Câmara da Guarda

P – A Guarda inspira-o, concorre por amor ou está do lado dos guardenses?

R – Se a Guarda tivesse o amor e a inspiração que os candidatos dizem ter, não se encontrava no estado em que está. Ele não é apenas resultado das políticas regionais, mas também da forma como o Governo tem encarado as questões do interior desertificado. O nosso concelho é o que tem o maior índice de pobreza da Beira Interior e a maioria dos candidatos esquece-se disso… É o amor e a preocupação que têm à Guarda.

P – Não se sente um pouco à margem da campanha eleitoral?

R – Não. Esta é uma candidatura dentro do partido sem partidarite e não fico defraudado porque os cidadãos ainda não entenderam a mensagem. Na sondagem que saiu n’”O Interior”, 80 por cento dos cidadãos ainda não tinham decidido, isto é um sinal de que encaram as candidaturas dos partidos mais fortes com alguma desconfiança. A nossa comunicação social são as pinturas nas paredes e só isso fez mais pela candidatura do que qualquer comunicação social. Temos de mostrar que temos projectos, porque há quatro anos Maria do Carmo Borges ganhou devido a um chorrilho de promessas. Contudo, o MRPP não pode dar a conhecer o seu programa eleitoral sem a ajuda da comunicação social.

P -O que destaca de negativo no último mandato da autarquia?

R – Há pouca coisa de positivo, porque a Câmara não fez nada com três Quadros Comunitários de Apoio. É preciso uma mudança de esquerda. A eleição de um vereador do MRPP mudava a gestão da Câmara no sentido de aproveitar a centralidade dupla da Guarda em relação ao país e à Europa. Esta posição geoestratégica não é aproveitada, pelo que o ponto principal da nossa candidatura é exigir que o Governo assuma esta vantagem da cidade, porque as outras estruturas quase que vêm por acréscimo.

P – E de positivo?

R – Há coisas boas, mas foram feitas sem uma visão estratégica a longo prazo. Estão a fazer-se coisas positivas na Cultura e na Educação, enquanto a plataforma logística é uma boa iniciativa, mas o que traz progresso são as pessoas.

P -Quais são as suas propostas?

R – A primeira é a assunção por parte do Estado da posição privilegiada da Guarda e do seu concelho, isto iria chamar pessoas e investimentos. O Teatro Municipal é uma coisa boa, mas faltam as pessoas. Depois, há também que exigir a melhoria da qualidade da habitação, porque, segundo “O Interior”, a maioria dos guardenses considera as suas casas «medíocres». Há que estar atento a essas opiniões e garantir melhor qualidade de vida, para além de incrementar a economia para atrair as populações.

P -Também defende uma auditoria às contas da Câmara da Guarda?

R – As auditorias são pedidas quando algo não está bem ou não houve transparência. É mau para uma Câmara quando os cidadãos desconfiam da sua gestão.

P – Já está esclarecido quanto ao défice da autarquia?

R – Não. Nem eu, nem ninguém. Se os guardenses tivessem na Câmara uma pessoa como eu, hoje não estaríamos na situação em que está. Contudo, os cidadãos também não são exigentes e as coisas arrastam-se, mas têm agora uma oportunidade para se manifestarem. Uma Câmara não se pode dar ao luxo de fazer com que os cidadão façam estas perguntas.

P – O que acha da situação da Delphi?

R – A situação da Delphi decorre da crise económica que o país atravessa. São multinacionais que, apesar das condições oferecidas para a sua instalação no nosso país, estão sempre à procura de outros lugares mais competitivos. O Governo tem de estar atento, porque temos mão-de-obra qualificada com a qual devemos atrair o investimento. Os empresários portugueses dão menos emprego, mas é mais duradouro e se tivessem tido apoio não precisavam de fechar as suas fábricas.

P – Como vê a relação da cidade com o IPG?

R – Na altura foi muito bom, mas nós fizemos coisas não pelo estatuto reivindicativo do poder local, mas porque foi moda. Falta o mais importante ao Instituto Politécnico da Guarda, que são as pessoas. É impensável um instituto estar às moscas e não se trata de notas de acesso!

P – O que pensa do TMG?

R – Esta foi das poucas coisas boas que o presidente Abílio Curto fez. Somos gente feliz com lágrimas, vamos às iniciativas do TMG numa altura em que a cultura não é barata, mas a população da Guarda é de classe média-baixa e, por vezes, nem gratuitamente vai. O problema é atrair as pessoas e para isso é preciso visão estratégica, que tem faltado.

P – Acha que as empresas municipais criadas na Guarda têm alguma utilidade ou são apenas meras agências de emprego?

R – Não conheço muito essa realidade, porque estou afastado do poder. Numa primeira avaliação sou contra, porque há muitas estruturas a funcionar na Guarda que podiam ser cedidas a associações. Algumas empresas municipais dão prejuízo, quando a sua função podia ser entregue a associações desportivas ou culturais que fariam a manutenção desses espaços. Por exemplo, tudo o que se fez no estádio municipal foi dinheiro deitado fora, pois cumpriu o seu papel enquanto campo pelado, mas foi um erro estratégico continuar a insistir em melhoramentos. Também o parque de campismo requer estruturas que o da Guarda não tem, como uma piscina ou “bungalows”. De resto, a cidade não tem zonas verdes.

P – Toda a gente fala em necessidade de mudança na Guarda. Mas as coisas não mudam? O que se passa na sua opinião?

R – A democracia implantada neste país criou hábitos de alternância. Os partidos existem para apresentar os seus projectos e as pessoas escolhem, mas actualmente a nossa democracia oferece menos dias de esclarecimento e deixa menos espaço para os pequenos partidos, como o MRPP.

P – Afinal sempre se confirmou o que disse em 2001, quando afirmou que a Guarda nunca iria ter um hospital novo por causa da falta de capacidade, tanto do PSD como do PS. Acredita que a remodelação vai concretizar-se?

R – Não, porque não há uma cultura de exigência por parte da Câmara face ao poder central. O PS já veio dizer que não há hospital novo e que as pessoas têm de entender. Isto é uma contradição numa região que está a desertificar-se e a envelhecer. Por isso, a Guarda precisa de um hospital com todas as valências, mas desconfio que qualquer dia temos apenas um centro de saúde. Está cada vez mais claro que o PS não quer uma unidade nova.

P – Na sua opinião, como será a Guarda daqui a quatro anos?

R – Esta candidatura tem os seus projectos e não se importa que a candidatura vencedora os aproveite, mas não creio. É preciso que a Câmara lute junto do poder central para reivindicar melhores condições para o concelho. Eu não acredito que melhore muito, a menos que as pessoas tenham um voto útil e inteligente. Um candidato não é bom porque apresenta um chorrilho de promessas, é bom quando depois deixa fluir os projectos com a sua acção. Comigo no executivo, a estrutura das piscinas velhas já tinha sido restaurada e coberta para treino das associações, sendo o seu funcionamento protocolado com uma associação que precisasse. O actual executivo não foi capaz de cimentar a zona onde vivo (100 metros), mas não fez esta e muitas outras obras e infraestruturas.

P – O que é para si um bom resultado nestas eleições?

R – Um bom resultado para uma candidatura de esquerda que ostenta uma foice e um martelo era subir de votação em relação à anterior. Era uma vitória porque a candidatura congratula-se com o tempo que esteve a elucidar os cidadãos acerca do seu programa e ficávamos contentes por a Guarda ter eleitores que votam não pelo hábito, mas pelos projectos das pessoas não ligando aos partidos, em especial aos que se alternam no poder. Claro que a eleição de um vereador do MRPP numa zona tradicional, onde o CDS já foi maioritário, era uma grande vitória. Nós temos projectos de luta e de exigência. O voto na nossa candidatura era direccionado para as boas propostas apresentadas por um partido pequeno. Estou contente porque 80 por cento dos cidadãos do concelho estão indecisos. O que me dá força para continuar a lutar em prol da defesa e do progresso dos meus concidadãos.

Sobre o autor

Leave a Reply