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E Lisboa, é Onde?

A Moody’s acaba de dizer que Portugal está no bom caminho, mas mesmo assim não subiu o rating da república. Merkel costuma também elogiar os esforços que temos feito para cumprir aquilo que ela acha ser bom para nós. Segundo estas duas autoridades, uma reputada agência de rating e a chanceler da Alemanha, estamos no bom caminho. É claro que temos por obrigação, quase que automática, desconfiar dos chanceleres alemães, pelo menos a partir de 1932. E temos também o direito de desconfiar das agências de rating, pelo menos a partir de 2008. Por outro lado, atendendo a que Merkel não parece saber onde fica Berlim (tendo localizado recentemente a capital do seu país algures na Rússia), é legítimo acreditar também que não sabe onde fica Portugal, e muito menos Lisboa. Seria até muito estranho que soubesse. Já a Moody’s deve saber, até porque vai enviando técnicos para cá periodicamente, para estes avaliarem as nossas contas públicas – mas esse grau mínimo de literacia pode não ser transponível para as competências que se esperam deles, e há, repito, precedentes perigosos.

Por isso, quando falam de Portugal, seja uma, seja outra, de que falam ou julgam falar, e com que conhecimento de causa? Parece cada vez mais que quem fala sobre a crise o faz com receitas pré-confeccionadas, que depois defende com um zelo fundamentalista. Krugman defende o aumento da despesa do Estado e a emissão de moeda? Pois lá vem outro a dizer que é precisamente isso que irá destruir de vez a economia e que mais vale declarar já falência.

Em Portugal é o mesmo, mas para muito pior. Aqui as opiniões divergentes são as do Passos Coelho e as do Tó Zé Seguro – e nenhum deles se arrisca a ganhar um dia um prémio Nobel.

Chegámos a um ponto em que é difícil decidir o que é mais inquietante: se o facto de termos chegado a uma situação desgraçada, como não temos tido na nossa história, se a circunstância de não só não haver uma plataforma mínima de entendimento para sair dela, mas de termos também a certeza de não estar no comando, ou na oposição, quem seja capaz de o fazer.

Por: António Ferreira

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