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É igual a éme cê ao quadrado

observatório de ornitorrincos

No início do seu mandato, o governo de Sócrates tinha uma ideia definida e um programa político responsável sobre o ensino superior em Portugal. No entanto, preferiu aplicar outros. O desnorte governativo com a ciência e o conhecimento torna-se evidente quando vemos o número de cursos de astrologia financiados pelo Ministério de Mariano Gago. Zero. Nem uma licenciatura, um mestrado ou doutoramento. Nada. Projectos de investigação nem vê-los. Nem o Ministério da Educação, com as suas novas oportunidades, deu aos portugueses a possibilidade de aperfeiçoar os seus conhecimentos astrológicos. Nestes casos suspeito sempre das ordens profissionais, sempre muito ciosas do seu espaço, que preferem afastar a concorrência de pessoas qualificadas.

Os tempos estão maus para perder o comboio da qualificação (desde que não seja o TGV). A concorrência internacional é muito grande, nomeadamente dos professores, doutores e mestres africanos especializados em ciências de vanguarda como sejam o mau-olhado ou a macumba. Este é um óptimo exemplo das vantagens de apostar em clusters competitivos e África, incapaz de competir com o proteccionismo euro-americano na agricultura e com o know-how asiático na tecnologia, encontrou o seu nicho de mercado na feitiçaria. Fazer desaparecer males de amor está para África como limpar vírus informáticos está para a Índia ou evaporar biliões de dólares está para a Islândia. É tudo uma questão de empreendedorismo que os jovens portugueses deveriam abraçar.

Torna-se assim incompreensível que o governo se tenha esquecido deste alargado campo do saber (alargado pelo menos desde que Heloísa Miranda passou a dedicar-se aos astros). Não se percebe que haja dinheiro para estudar clássicos gregos ou o aparelho respiratório das perdizes e não se apoiem financeiramente investigações sobre os problemas de exclusão social nos planetas ou o isolamento térmico nas doze casas do Zodíaco. A Torre do Tombo compra espólios de cartas de poetas mas não liga nenhuma às cartas astrais.

A nova geração de portugueses está a sair mal formado das escolas. Sem competências básicas para ler a sina ou fazer as contas da numerologia não pode aspirar a mais do que um emprego mal remunerado e a recibo verde no mercado competitivo das ciências paranormais. Para passar vergonhas no panorama internacional das ciências ocultas já nos basta o ministro das Finanças ser considerado um dos que menos percebe de Economia.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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