Arquivo

«É hora de votar nas pessoas de cá»

Gosta de desafios e quer dar voz aos problemas do distrito no Parlamento. Emília Bento, candidata do CDS pela Guarda à Assembleia da Repúblicas nas eleições de 5 de junho, promete empenhar-se na defesa da agricultura, dos produtos regionais e do trabalho das IPSS da região.

P – Qual é a sua meta nestas eleições?

R – É ser eleita deputada pelo distrito da Guarda. Foi esse o desafio que me foi lançado e é isso que me proponho fazer, com muito trabalho. Sei que não vai ser uma tarefa fácil, devido aos resultados das últimas legislativas, mas é para isso que cá estamos, para lutar, porque se fosse um desafio fácil já outros estariam empenhados em participar. Eu gosto de desafios e foi nesse sentido que encabecei a lista, para tentar fazer o melhor e defender os interesses das pessoas do distrito.

P – Acredita que será possível manter a mesma votação que o partido obteve em 2009, quando foi a terceira força política com mais votos (11.433 mais precisamente)?

R – Acredito que é possível manter e mais: penso que será possível subir. Aliás, verificámos que há uma dinâmica muito forte, um empenho sério da parte da distrital da Guarda e das concelhias no sentido de conseguirmos aumentar esse resultado.

P – Sente-se na pele de um “david” frente a dois “golias”, neste caso PSD e PS?

R – Sim, atendendo aos resultados, é essa a leitura que se poderá fazer, mas costuma-se dizer que “dos fracos não reza a história”. Compete-nos inverter essas ideias e essa tendência. É um desafio gigantesco, mas quanto maior é, melhor será a sensação no final, de trabalho feito e do amor à causa pública. O CDS deve fazer uma chamada de atenção para o trabalho que não foi feito pelas outras forças políticas dominantes, principalmente no abandono do distrito depois das eleições. Esses dois grandes partidos vêm à região com a intenção de elegerem deputados e depois, durante o mandato, já não aparecem. As pessoas ficam sem conhecer o trabalho que eles desenvolveram. É isso que vamos tentar fazer ver às populações, vamos ter uma campanha de proximidade, para tentar saber quais são os problemas.

P – O CDS promete então não “abandonar” o distrito após as eleições?

R – Sou natural do distrito da Guarda, resido aqui, sofro com todas as medidas que não são tomadas para diminuir a falta de coesão nacional. Eu vou continuar por cá, sou de cá, gosto imenso da minha terra. E costumo dizer que sou da Guarda, do distrito, com muito orgulho e vou representá-lo também com muito orgulho.

P – Diz que as outras forças políticas não voltaram ao distrito. Que problemas deixaram por resolver?

R – A Guarda é um distrito essencialmente rural – e a agricultura é um tema muito querido ao presidente do CDS, Paulo Portas. Somos dos partidos que mais defende essa atividade e a Guarda deve pensar muito seriamente no assunto. A agricultura tem sido abandonada, os agricultores não são protegidos e vivem hoje com imensas dificuldades, muitos deles em estado de falência. Mas têm um partido que se preocupa muito com eles – há um trabalho imenso feito pelo grupo parlamentar do CDS na Assembleia da República que testemunha esse crer e essa vontade.

P – O voto no CDS pode ser de protesto contra o último governo?

R – É um voto de protesto e não só. É um voto de mudança. Os eleitores já se aperceberam que ao longo de décadas têm votado sempre nos mesmos e estão a chegar à conclusão que os seus interesses não têm sido defendidos. Nos últimos anos, a Guarda tem perdido influência política e acho que chegou a hora de mudar, de dizermos basta. É hora de votar nas pessoas de cá, que vivem as dificuldades da Guarda, que as conhecem e sofrem com elas.

P – Já foi candidata à Câmara de Aguiar da Beira e portanto conhecerá bem algumas localidades da região. No seu entender, quais são os problemas mais prementes do distrito?

R – Temos o problema das nossas empresas. Aqui no distrito, há infraestruturas muito boas, mas estão completamente subaproveitas e votadas ao abandono. Para se fixarem no distrito as empresas sofrem os custos da interioridade: as energias são mais caras, é mais difícil levar os produtos a outras partes porque as distâncias são maiores, temos o problema de Espanha aqui ao lado, onde o IVA é mais baixo. Por isso, os produtos acabam por sair mais caros e atendendo, por exemplo, às agruras do nosso clima, gasta-se muita energia. Estas são despesas que as nossas empresas têm e que se estão a tornar incomportáveis. Depois, os nossos jovens tendem a sair, para procurar noutras paragens aquilo que a sua terra não lhes oferece. Nesse sentido, temos de vocacionar o ensino para cursos profissionais, que lhes permitam formar-se em áreas que lhes deem trabalho e fixarem-se cá.

P – O que pensa da introdução de portagens nas SCUT da região?

R – Sou totalmente contra a introdução de portagens. Volto a focar a questão da interioridade. Nós estamos longe dos grandes centros, temos boas vias de comunicação, mas se as vamos pagar, é a morte do interior. E o distrito da Guarda vai sofrer consequências gravíssimas. Se as nossas empresas já têm dificuldades, então com a introdução de portagens, será realmente uma violência.

P – Seja qual for a força política que vença estas eleições e tendo em conta que há um entendimento entre o governo e a “troika”, acha que ainda é possível a introdução de portagens não ser levada avante?

R – É possível, porque há outras formas de se cumprirem os critérios impostos e negociados com o FMI. Os residentes e as empresas localizadas no distrito da Guarda deviam ser apoiadas e não deviam pagar essas portagens.

P – O que acha da proposta de redução do número de deputados na Assembleia da República?

R – Não concordo. O distrito da Guarda tem quatro deputados. A questão não é reduzir o número, mas sim termos bons deputados que defendam os interesses dos distritos onde foram eleitos. Todos são necessários, têm é de ser melhores. Os deputados eleitos pelo mesmo distrito deviam conversar muito entre eles, deviam explorar as necessidades das suas regiões e todos juntos fazerem força para levar a bom porto medidas que possam desenvolver os distritos que os elegeram.

P – Quais são os seus projetos caso seja eleita?

R – Acima de tudo, tenho de seguir as linhas do meu partido, com as quais concordo. Uma das grandes preocupações do CDS é a coesão nacional e dentro deste tema cabe tudo. Os distritos, as zonas mais desenvolvidas, com mais poder de compra e melhores oportunidades, deviam ser um bocadinho mais solidárias com o interior. E essa é uma tarefa que não é fácil, mas que é possível. Além disso, é necessário reforçar o trabalho das IPSS, que tem sido excelente. Mas apostar também nos produtos regionais e na agricultura. Vejo que as pessoas do interior estão muito desmotivadas, já não acreditam, pelo que o papel do CDS também pode passar por falar com elas, dizer-lhes que agora vai ser diferente e que têm alguém do distrito que sofre e vive esses problemas, que estamos ao lado delas. Acho que uma palavra de incentivo pode ser muito importante.

«É hora de votar nas pessoas de cá»

Sobre o autor

Leave a Reply