Arquivo

E a gripe, hã?

Observatório de Ornitorrincos

A gripe vem lá. O povo aguarda ansiosamente a sua chegada, como se de sebastianismo se tratasse. Do nevoeiro – ou do último voo de Yucatán – aguardamos quem nos traga qualquer coisa de novo. Pode ser o Quinto Império ou mais uma constipação. E tal como o Sebastião de Quinhentos, esta gripe apanha-se facilmente. Com esta diferença: a gripe A traz-nos miúdos ranhosos, Alcácer-Quibir ficou-nos com um.

O número de pessoas infectadas em Portugal com esta gripe é ainda relativamente pequeno. Fosse uma gripe que se pudesse exibir na rua, como os telemóveis, e neste momento a taxa de infecção era para cima de 80%. Havia até quem já tivesse duas ou três.

Quem anda eufórico com cada doença que aparece são os directores de informação das televisões. Por cada nova gripe, os telejornais ganham animação. Há até quem garanta que os vírus são criados em laboratório pelos sindicatos de jornalistas para haver trabalho durante os meses de Verão. Eu não sou frequentador de tertúlias da conspiração, mas que os jornalistas nunca ficam de cama e aparecem sempre na televisão à hora do telejornal, lá isso aparecem.

As personalidades próximas do PS também aparentam mais calma com a proximidade da pandemia. Provavelmente, no Largo do Rato têm o vírus H1N1 sob escuta e sabem bem quais os seus próximos movimentos e as horas a que o bicho passará pelo Palácio de Belém. Os socialistas são peritos em planificação e sabe-se que uma campanha eleitoral é tão difícil de organizar como uma ida à Lua. Ou mais, porque é preciso contratar cantores pimba.~

Segundo fontes próximas de Belém – e um chafariz e duas nascentes, tantas são as fugas de informação da Presidência – o professor Cavaco ficou arreliado com as escutas e Maria Cavaco Silva terá afirmado: “Espero que eu também esteja a ser escutada. Haja alguém, sem ser a Laurinda Alves, que se importe com as coisas que eu digo. E já gora que se dedique a isso o dia inteiro”. As mulheres gostam tanto que as ouçam, que se dominassem a política, eram elas que montavam os microfones nos próprios gabinetes.

Pela minha parte, estou descansado. Não estou alarmado com a gripe nem assustado com as escutas. Se a doença me atacar e me atirar à cama duas semanas, só lhe peço que o faça nos dias das etapas de montanha da Volta a Espanha. Se alguém estiver ocupado com a tarefa de manter as minhas comunicações sob escuta, tenho de lhe pedir desculpa pelo aborrecimento das conversas. Se quiser, venha até cá a casa e vemos a Volta a Espanha.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

Sobre o autor

Leave a Reply