Arquivo

Duzentos e Trinta Dólares

Acaba de ser anunciado um novo aumento para o preço do gasóleo. Há uma semana atrás, tinha havido um aumento de três cêntimos, afectando também a gasolina. São já, este ano, uma dúzia e meia de vezes que os combustíveis ficam mais caros. Com eles sobem os preços de tudo o mais, começando pelos transportes e alastrando ao resto. A nossa civilização, recordo-o, baseia-se no petróleo. É a matéria-prima não só dos combustíveis, mas também dos plásticos, de fertilizantes, de medicamentos, até de alimentos. Podemos dar as voltas que quisermos, mas não podemos fugir-lhe. Sem ele, o planeta apenas poderia dar guarida aos mil e quinhentos milhões de humanos da era pré-industrial.

O aumento do custo do barril para além dos 130 dólares, notícias de 20 de Maio, implica falências e fome. A OPEP diz não aumentar a produção para preservar as reservas. É um bem escasso e limitado. Não há regeneração natural e quem o tem quer vendê-lo ao melhor preço, quer obter o máximo de lucro possível com as suas reservas. Se, produzindo menos, houver a mesma ou maior procura e aumentar (necessariamente) o preço, o objectivo é alcançado.

Temos assim gigantescas massas de dinheiro a transitar de todo o Mundo, e especialmente dos países ocidentais, para os países produtores de petróleo. O que nos leva à questão, legítima mas preocupante, do destino de todo esse dinheiro. Entre os países com maiores reservas e que mais estão a lucrar com o aumento dos preços temos, por exemplo, o Irão, uma ditadura teocrática que procura armamento nuclear, a Venezuela, uma suposta democracia, claramente musculada, que financia grupos terroristas, a Rússia, ninho de corruptos, que procura recuperar a importância de outrora a qualquer preço, a Nigéria, que é ainda pior do que a Rússia em corrupção e que os outros em tudo o mais. Todos estes países têm agora dinheiro para as suas mais loucas ambições, dinheiro esse obtido à nossa custa. Enquanto nós empobrecemos, enquanto as nossas empresas vão indo, uma atrás de outra, à falência, eles enriquecem.

Têm tanto dinheiro que não sabem mais que fazer com ele. Na dúvida, investem em armas e em empresas e políticos ocidentais. O lobbiyng era já prática corrente, mas nunca tinha enfrentado os actuais números. Na Câmara dos Representantes ou no Senado dos EUA há quem receba dinheiro do petróleo – e por isso não passou, não faz muito tempo, uma lei que penalizava fiscalmente as viaturas com consumos mais elevados. Compram outras coisas, compram dívida pública, fundos de pensões e de investimentos. Vão, aos poucos, ficando donos de tudo. O objectivo? Eles lá saberão, mas eu não fico nem um pouco tranquilo.

Por: António Ferreira

Sobre o autor

Leave a Reply