Durão Barroso impressionado com Museu do Côa

O presidente da Comissão Europeia visitou no sábado, pela primeira vez, o Museu do Côa, inaugurado há dois meses em Vila Nova de Foz Côa. Lembrando que foi no seu governo que o projecto foi lançado e aberto o concurso para a sua construção, Durão Barroso quis conhecer o resultado e mostrou-se um visitante interessado e informado sobre a arte paleolítica.

«É uma grande obra, magnífica do ponto de vista museológico porque consegue, apoiando-se em dados científicos sólidos, ser atraente para o grande público – obviamente que exige também do visitante uma disponibilidade e uma abertura para aprender, pois não se pode estar aqui a olhar sem fazer um esforço», disse no final a O INTERIOR. Nesta visita de meia hora, conduzida por João Paulo Martins, do IGESPAR, Durão Barroso passou pelas várias salas do museu e ficou a conhecer estilos de gravuras, artefactos, utensílios e as réplicas da Canada do Inferno e do Vale de José Esteves. O ilustre visitante também não escondeu o deslumbramento pela solução arquitectónica, considerando «belíssimo» o edifício e a sua ligação à paisagem. «As pessoas da região estão de parabéns, Deus queira que agora muita gente o visite, pois têm aqui um pólo fantástico de ligação da arte rupestre portuguesa à arte rupestre europeia e mundial», declarou.

Admitiu também que o museu pode ser o princípio de um “cluster”, juntamente com a arte contemporânea e as coisas do território, para o desenvolvimento regional: «Toda a região Norte tem problemas sérios de desenvolvimento e a forma de os ultrapassar é aproveitando recursos históricos, naturais, agrícolas e não só, mas ligados também às artes criativas, à ciência e ao turismo. Mas apostando sempre na qualidade, pois o público europeu e mundial está cada vez mais sofisticado, não quer coisas feitas à pressa», sugeriu. Nessa tarefa, o presidente da Comissão Europeia espera ver as autoridades regionais, locais e nacionais a investir nesse potencial, pois «um museu sozinho não resolve o assunto». Já Gustavo Duarte, presidente do município de Vila Nova de Foz Côa, revelou que a Fundação que vai gerir o museu ainda não está constituída. «Estamos em conversações com o Ministério da Cultura e o IGESPAR e penso que, o mais tardar, até ao fim do ano a Fundação estará instalada», declarou.

Só então será possível abrir o restaurante e contratar pessoal, já que actualmente são os guias do Parque Arqueológico do Vale do Côa que dão apoio aos visitantes do museu. «Mas fazem falta no acompanhamento das pessoas aos núcleos de arte rupestre», acrescentou. Ainda não há dados oficiais sobre o número de entradas ao Museu do Côa nestes primeiros dois meses.

«Quando eu falo os mercados ouvem e pode haver consequências»

À margem desta visita, Durão Barroso recusou-se a «especular ou a fazer cenários» sobre a actual situação financeira do país para não ser mal intrepretado pelos mercados.

«Na posição que ocupo, não posso estar todos os dias a fazer comentários ou dizer o que acontece se for assim ou assado, porque quando eu falo também os mercados ouvem e pode haver consequências em relação àquilo que digo», disse aos jornalistas. O antigo primeiro-ministro voltou a insistir que tem «confiança» no país e socorreu-se da vitória da selecção nacional de futebol na véspera para apelar ao optimismo dos portugueses. «Vamos também mostrar um bocado de confiança em Portugal», reiterou, sublinhando que os dirigentes políticos são «responsáveis» e que cabe à Assembleia da República tomar as decisões. «Espero que em Portugal se encontre uma solução, é muito importante para o país e para a economia portuguesa que haja uma solução, tão consensual quanto possível. Mas isso compete às entidades democraticamente eleitas e ao Parlamento tomar as decisões», declarou. Durão Barroso acrescentou depois que está confiante que «isso vá acontecer».