P – Como surgiu a ideia de criar este projecto?
R – Sou professor na disciplina de Processamento Digital de Imagem e senti a necessidade de encontrar, nos meus alunos, motivações suplementares para a própria disciplina e mostrar o que se pode fazer a esse nível. Também por uma questão de relacionamentos pessoais e institucionais, tenho contactado com pessoas que trabalham e lidam com deficientes, o que me foi de certa forma sensibilizando para esta problemática. No fundo, este projecto é uma tentativa de casamento entre duas realidades diferentes.
P – Em que consiste e que aplicações poderá ter o “Magic Key”?
R – A questão que se põe é como é que uma pessoa que não pode utilizar as mãos consegue interagir com o computador? À partida, a sua interacção fica extremamente limitada e foi precisamente a pensar nessas situações que tentámos arranjar uma solução. O “Magic Key” é uma aplicação em que se utiliza apenas o movimento da cabeça para posicionar o cursor do rato no sítio pretendido, enquanto o piscar de olhos permite fazer os cliques.
P – E no futuro qual será a importância deste programa?
R – Eu não falaria só no futuro, falo no presente. O “Magic Key” já é importante porque está a ser usado, em termos reais e práticos, por pessoas cuja qualidade de vida mudou completamente. Quando se sofre um acidente de viação e se fica tetraplégico, há um corte radical na vida que se levava até aí. Mas com esta aplicação é possível enviar e-mails, consultar a Internet, fazer compras on-line e manter-se em contacto com a sociedade ou os amigos. E isso, por si só, dá uma nova esperança a estas pessoas. Quando se deita, é importante para um tetraplégico ter em mente qualquer coisa do género, amanhã vou fazer isto, vou procurar aquilo. Ou seja, uma pessoa passa a ter novamente uma vida própria e a ter interesse e isso é extremamente importante.
P – Então já existem pessoas deficientes a usufruírem do “Magic Key”, o que dizem dele?
R – Sim. Há cerca de um mês telefonei para casa de uma pessoa para perguntar como estavam a correr as coisas com o programa e ela teve esta frase que acho surpreendente: “A Magic Key e eu somos uma só!”. Quando uma pessoa interioriza e diz isso mostra o quanto essa aplicação é importante.
P – Quem o está a apoiar? Se não tiver apoios o avanço deste projecto poderá estar em perigo?
R – Neste momento apenas a ESTG está envolvida, no entanto, obviamente estamos abertos a todas e quaisquer colaborações de outras entidades. Aprendi durante este tempo a contar essencialmente com o meu trabalho. Costumo dizer que se tivermos mais apoio os projectos têm um ritmo mais acelerado, caso contrário os projectos não páram, mas, provavelmente, avançarão a um ritmo mais lento.
P – Já pensou em apresentar a ideia a alguma empresa que o poderá patrocinar para continuar nas investigações e futuramente comercializá-lo?
R – Quando se fala em comercialização é um pouco complicado, porque não gosto de colocar a questão do ponto de vista empresarial. Algumas empresas já me contactaram para a possibilidade de o comercializar, mas, do ponto de vista estritamente económico, isto é um projecto que não tem rentabilidade, porque, felizmente, no nosso país há poucos tetraplégicos. Contudo, o facto de não ser viável economicamente não quer dizer que não o seja do ponto de vista social.
P – Acredita que teria mais patrocínios se estivesse fora da Guarda?
R – Não tenho dúvida nenhuma. Se este trabalho tivesse sido feito numa das universidades ditas de referência os apoios institucionais teriam sido outros. Tal como seria impensável que uma entidade oficial, como a Fundação para a Ciência e Tecnologia, o tivesse considerado demasiado fraco.