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Duas grandes exposições na Fundação Gulbenkian

Opinião – Ovo de Colombo

Com a chegada do Outono inicia-se uma das principais temporadas de exposições nas várias instituições culturais do país. Este ano a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, protagoniza a rentrée com duas grandes e imperdíveis mostras que permanecerão visitáveis até janeiro de 2015: “A História Partilhada. Tesouros dos Palácios Reais de Espanha” patente na sala de exposições temporárias do Museu Gulbenkian; e “António Dacosta 1914-2014” no Centro de Arte Moderna. Ambas são resultado de projetos morosos, com vários anos de preparação, e no caso de António Dacosta com uma equipa de investigação ativa durante quatro anos, o que denota e reforça o papel essencial que a Fundação Calouste Gulbenkian presta ao serviço da cultura, ao estudo e apoio às artes em Portugal.

“A História Partilhada. Tesouros dos Palácios Reais de Espanha” resulta da colaboração entre o Museu Gulbenkian, a Fundação “La Caixa” e o organismo Patrimonio Nacional de España, responsável pela gestão, preservação e divulgação dos bens provenientes da Coroa. A organização em seis núcleos expositivos permite um excurso pela História de várias dinastias reais do país vizinho, dos Reis Católicos ao período pós invasões napoleónicas. Procedente de diferentes espaços reais e instituições museológicas, podemos apreciar cerca de centena e meia de obras de pintura, artes aplicadas e decorativas, objetos pessoais, etc., de autores memoráveis como Velázquez, Goya ou Caravaggio; que ilustram também a estreita relação entre as duas monarquias ibéricas e o importante estatuto mecenático assumido pela Casa Real ao longo de vários séculos.

Num registo bem diferente, no âmbito da contemporaneidade, o Centro de Arte Moderna apresenta a exposição dedicada ao artista açoriano António Dacosta (1914-1990), evocando o centenário do seu nascimento. Após uma fase pictórica de pendor surrealista, Dacosta partiu para Paris onde permaneceria até falecer – o que pode justificar ser, ainda hoje, pouco conhecido do grande público. A partir de final dos anos 40 praticamente abandonou a pintura, dedicando-se sobretudo à crítica de arte, retomando paulatinamente os pincéis apenas em meados dos anos 70. Desta segunda fase resulta uma pintura que almeja a intemporalidade e transparece a exaltação pela vida. Muito produtivo na última década, o seu registo evoluiu para uma maior depuração e sintetismo (narrativo, compositivo e cromático), conseguindo alcançar a dimensão do sublime. A exposição que agora inaugurou inclui obras inéditas, entre outras já conhecidas, mas consegue o propósito – mais do que justo e oportuno – de reverenciar um dos grandes nomes da pintura portuguesa do século XX. Em paralelo foi lançado o catálogo raisonné de António Dacosta em formato digital (www.dacosta.gulbenkian.pt), com o levantamento de todas as obras do autor, reproduzidas e documentadas – primeiro projeto do género dedicado a um artista português.

Por: Tânia Saraiva, historiadora e crítica de arte.

Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), “Salomé com a cabeça de João Batista”, Óleo sobre tela, Património Nacional, Palácio Real de Madrid

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