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Duas centrais de biomassa em concurso para o distrito da Guarda

Resíduos florestais vão produzir electricidade no sopé da Serra e na zona do Sabugal

O Governo abriu, segunda-feira, dois concursos públicos para a construção e exploração de duas centrais de produção de electricidade através de biomassa florestal no distrito da Guarda, com uma potência máxima conjunta de cerca de 12 megawatts. Contudo, este procedimento também abrange a energia produzida nas zonas limítrofes dos distritos de Viseu e Castelo Branco. Em causa está a atribuição de capacidade de injecção de potência nas redes do sistema eléctrico de serviço público e estabelece pontos de recepção associados nas subestações do Sabugal e de Chafariz, no concelho de Gouveia. Os interessados têm até 11 de Setembro para apresentar propostas.

«É uma boa notícia», diz Mário Ferreira da Silva, presidente da Comissão Florestal do Nerga – Associação Empresarial da Região da Guarda, que acolheu, em Novembro último, um seminário nacional sobre o aproveitamento da biomassa organizado pela Embaixada da Áustria em Portugal. «Esta atribuição vem confirmar que esse encontro aconteceu no momento oportuno», admite, considerando que a capacidade de produção indicada é «excelente». O responsável garante que a região da Guarda tem um bom potencial neste sector, mas não está «convenientemente» estudado. E se os pontos de acesso dão a entender que a encosta Norte da Serra da Estrela e o Sul do distrito serão as áreas de maior florestação, Mário Ferreira da Silva garante que há mais. O problema foram os últimos incêndios: «Actualmente, há zonas com menor produção de biomassa, mas acredito que o período do concurso e de instalação das centrais vai permitir a sua reflorestação para que tudo volte ao normal daqui a uns anos», espera. Tudo para um maior aproveitamento e rentabilidade dos resíduos florestais. Em 2005, um estudo do Conselho Empresarial do Centro (CEC) afiançava que a floresta gera «uma mais-valia financeira superior ao turismo» na região Centro.

«Com estas centrais, os agricultores e proprietários florestais das zonas abrangidas vão ter a prova de que a gestão e a limpeza da floresta são financeiramente compensadoras e rentáveis», refere, adiantando que o Nerga está disponível para ser parceiro de todas as candidaturas que aparecerem. Mas apenas com os meios e recursos existentes na Associação Empresarial, porque este tipo de investimentos são «bastante avultados», esclarece. A biomassa é feita a partir de mato, resíduos (como cascas, folhas ou ramos de árvores), árvores, produtos agrícolas como a beterraba, cereais ou gás animal. A sua valorização faz parte da estratégia nacional para a promoção e desenvolvimento das energias renováveis. É encarada não só como uma oportunidade de negócio e de criação de emprego em zonas rurais, mas também como um dos instrumentos de luta contra os incêndios, através da limpeza das florestas. Portugal tem como objectivo atingir em 2010 uma meta de 150 megawatts de energia eléctrica produzida através da biomassa, o que permitirá reduzir a importação de combustíveis fósseis, como o petróleo, e a emissão de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera. Actualmente Portugal tem apenas duas centrais que utilizam biomassa florestal como principal combustível – a da EDP em Mortágua e a Centroliva, em Vila Velha de Ródão.

Existem também nove centrais de cogeração instaladas nas indústrias do sector florestal que fazem aproveitamento de biomassa para produção de calor como a Portucel, Amorim Revestimentos, Stora Celbi, Soporcel, SIAF e Companhia de Celulose do Caima. Com esta iniciativa, a Direcção-Geral de Geologia e Energia espera aproveitar até um milhão de toneladas de biomassa por ano para produzir electricidade. O distrito de Castelo Branco é o que é abrangido por um maior número de concursos, com quatro, um dos quais localiza-se no concelho da Covilhã.

Energia independente

A Câmara de Seia tem em curso um estudo-prévio para conhecer a quantidade de biomassa florestal disponível no concelho e apurar se é possível construir uma central de dimensão mínima ou, caso contrário, avançar somente com o seu aproveitamento para fornecer aquecimento e água quente às populações locais. Caso o investimento seja concretizado, o município pretende instalar esta central entre Vide, Cabeça e/ou Loriga, onde subsiste a maior mancha florestal do concelho. No entanto, o seminário promovido no Nerga pela Embaixada da Áustria, líder mundial no aproveitamento da biomassa, revelou que o sector ainda está por desbravar em Portugal, enquanto 20 por cento da energia produzida naquele país é gerada através da biomassa. Gil Patrão, director do Centro de Biomassa para a Energia, disse mesmo haver por cá qualquer coisa como seis milhões de toneladas de biomassa disponíveis anualmente, que, até 2010, poderiam suprir cerca de quatro por cento das necessidades de energia eléctrica. «É um sector por explorar devido à ausência de um pano de fundo regulatório que permita que as intenções se traduzam em negócios», insistiu, considerando a biomassa como a «maior oportunidade» de Portugal poder dispor de energia de forma «autónoma e independente», pois é acumulável e utilizável quando mais se precisar dela, «ao contrário da eólica e das mini-hídricas, que produzem apenas quando esses recursos existem».

Luis Martins

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