A nossa cidade perdeu há seis anos, no dia 23 de Maio, duas personalidades que, em nossa opinião, merecem um lugar de destaque na galeria das figuras ilustres da Guarda.
Os Drs. João Gomes e Martins de Queirós, ainda que diferenciados na sua postura, actividade profissional e ideologia, souberam servir e dignificar a Guarda, tendo deixado fortes marcas da sua intervenção social.
O primeiro, figura incontornável na luta pela liberdade e democracia no distrito da Guarda, homem culto e socialista convicto, advogado brilhante, orador apreciado, tutelou uma enorme actividade política, bateu-se por princípios e ideias, esteve sempre na linha da frente dos interesses desta cidade, do distrito.
Mesmo quando exerceu as funções de Governador Civil do Distrito, João Gomes não hesitava em discordar – quando a sua consciência e o seu amor pela Guarda assim o exigiam – com as directrizes políticas ou opções estratégicas que na sua opinião não eram as melhores para a sua região.
Martins de Queirós, o quarto e último director do Sanatório Sousa Martins, deixou fortes traços da sua acção naquela conhecida (nacional e internacionalmente) estância de saúde, cujo 102º aniversário da inauguração ocorreu na passada segunda-feira, 18 de Maio; materializou a solidariedade com os doentes de fracos recursos económicos, através da afirmação do Centro Educacional e Recuperador dos Internados, associação que estabeleceu a ponte com a comunidade envolvente e outrossim com múltiplos percursos profissionais, dos quais, aliás, a própria cidade beneficiou.
A sua maior herança foi, talvez, a estação de radiodifusão sonora que, a partir de 1954, ajudou a robustecer e a projectar-se de forma inequívoca, na região e no país; estação que continua a emitir da Guarda, a honrar o seu largo historial e o esforço dos seus pioneiros.
Martins de Queirós por diversas vezes – nomeadamente na imprensa local – apresentou a sua ideia sobre o Parque da Saúde da Guarda; as conjunturas não foram, infelizmente, favoráveis à certificação da validade e oportunidade dos seus projectos.
A morte levou, na mesma data, dois homens com percursos distintos mas que convergiram na paixão pela Guarda, pelos “povos da Beira Serra”, como João Gomes, nas suas “Reflexões Políticas” (aos microfones da rádio que nasceu no Sanatório) gostava de denominar os destinatários das suas prelecções. Muitos, certamente, recordam ainda essas empolgadas quanto esclarecidas intervenções.
Honrar a memória destes dois homens passa por reflectir sobre o seu exemplo e pelo contributo que em planos diferentes – como já disse – deram à cidade onde viveram e trabalharam; cidade onde tarda uma mais que justa consagração na sua toponímia.
No confronto com alguns nomes atribuídos a artérias citadinas, resultantes da ligeireza da escolha, falta de imaginação ou da aconselhada e necessária ponderação para novas designações, João Gomes e Martins de Queirós têm uma vida, uma acção, um exemplo que falam por si sem necessidade de muita prosa para sustentar argumentos.
Em seis anos já houve tempo suficiente para perpetuar os seus nomes na toponímia guardense…
Por: Hélder Sequeira
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