Leio em artigo publicado na Notícias Magazine que as mulheres mais ricas têm mais dificuldade em conseguir namorados. Na reportagem somos apresentados a quatro mulheres endinheiradas que mantiveram relações duradouras com homens com muito menos dinheiro. Dessas quatro ligações, só uma resistiu. E esta à custa de uma zanga com a mãe da entrevistada, que achava inaceitável que o homem vivesse à custa da filha. Acrescente-se que a dita mãezinha nunca tinha trabalhado. O marido era dono de uma clínica privada e ela era uma senhora da sociedade. Como é de imaginar, achava a filha uma grandessíssima puta porque ganhava muito dinheiro a trabalhar para sustentar a vida que fazia com um homem financeiramente insuficiente.
Este artigo mostra como cinquenta anos de retórica feminista não deram em nada. As revistas femininas ensinam as mulheres a procurar príncipes encantados e orgasmos múltiplos, mas ainda não explicaram às suas leitoras o que podem (e devem) fazer com o dinheiro e o poder.
Os homens desde sempre perceberam que um cartão gold, um Jaguar e uma posição de chefia são melhores afrodisíacos que centenas de perfumes e espumas para o cabelo. Aliás, sempre que um homem com qualquer uma destas características (ou as três reunidas, de preferência) se pavoneia com uma mulher (normalmente) mais nova, (quase sempre) mais pobre e (inevitavelmente) mais bonita, outras mulheres saltam a terreiro para chamarem à rapariga prostituta ou mesmo alguns nomes feios. Se for o caso inverso, como o da dita reportagem, o estigma continua a ser das mulheres. Que estão a ser exploradas, que os rapazes só andam com elas por causa do dinheiro. Todas elas sentiram que estavam a comprar a felicidade. Betty Friedan e Simone de Beauvoir nada puderam contra décadas de romances hollywoodescos sobre o amorzinho burguês.
Às mulheres não lhes passa pela cabeça que a expressão “gostar de alguém pelo que ele é” inclua ser rico e poderoso. Algumas acham até indecente que se goste de alguém por ser bonito ou sensual.
Enquanto as mulheres não perderem a mania de quererem que o amante conheça o seu “eu” interior e depois se apaixone por ele, o mundo será sempre dos homens. Se alguém é rico, poderoso, bonito ou sexy, gostar do seu dinheiro, do seu poder, da sua beleza ou da sua sensualidade é gostar dessa pessoa precisamente pelo que ela é.
Depois do direito de voto, da integração no mercado de trabalho, da pílula anticoncepcional, da igualdade de direitos e da supremacia na população universitária, falta às mulheres o último passo para atingir um patamar de equivalência que lhes permita, um dia, tomar conta do mundo. (O que me daria, agora sem ironias, uma enorme satisfação.) Que é perceber que o dinheiro na carteira não serve só para gastar nas lojas e que o poder nas hierarquias não se usa só para mandar na secretária e nos encarregados.
Nota de actualidade sobre o mesmo assunto:
Um aluno americano de oito anos foi condenado a dois anos de liberdade condicional por “apalpar” umas coleguinhas por cima do vestido, enquanto a garotada via o filme Mary Poppins. Este rapaz sofre de graves distúrbios psíquicos, como provam os desejos sexuais manifestados ao ver Julie Andrews de saia larga e a cantar “Supercalifrajalisticexpialidocious!”. Espera-se que o rapaz seja sujeito a um tratamento intensivo de filmes protagonizados por Asia Carrera ou Jenna Jameson e seja devidamente explicado ao pequeno pervertido que se deve excitar com filmes destes e gajas e, caso necessite, deve fazer justiça pelas próprias mãos sem interferir no espaço corporal das coleguinhas. A pornografia pode, desta maneira, revelar-se de um valor didáctico e social incalculável.
Por: Nuno Amaral Jerónimo