Começa hoje o mais vanguardista dos festivais promovidos pelo Teatro Municipal da Guarda (TMG). Durante três dias, o “DizSonante” (sound poetry. sound art. performance. spoken word. Oralidades) revela a poesia e a arte sonora mais actual através de três propostas de vanguarda. A iniciativa arranca com as performances “Passagem”, de Alberto Pimenta, e “Disección Poética en Público”, da poetisa espanhola Marina Oroza, ambos no pequeno auditório.
Alberto Pimenta é frequentemente apelidado de «experimentalista», uma definição que rejeita, pois não se revê na combinação de estética e programática de correntes. Uma das principais marcas da sua obra poética consiste em sacralizar o profano e vice-versa. Da sua estética da performance faz parte tratá-la como um evento único, irrepetível, criado para a circunstância local e temporal da sua realização. A seguir a esta proposta, o público será surpreendido por um espectáculo multidisciplinar protagonizado pela escritora Marina Oroza. Trata-se de uma colagem de vozes e efeitos, onde a performer e actriz cria um diálogo com as diferentes formas de expressar a sua poesia em público. O resultado é um concerto poético, onde desdobra a sua identidade, projectando um documentário intitulado “Glicerina”, retrato de si mesma enquanto poeta vagabunda. Amanhã, “Rumor”, de Ana Deus, substitui Blixa Bargeld, que, por motivos pessoais, não se pode deslocar a Portugal. A cantora pertenceu aos projectos Ban e Três Tristes Tigres e apresenta-se agora a solo para que só a voz se faça ouvir.
Com a ajuda de pedais, cria texturas e ritmos sobre os quais vai criando e recriando temas. Alberto Pimenta, Ernesto Melo e Castro, Daniel Faria, Fausto, José Mário Branco e Regina Guimarães são alguns dos autores visitados. Os vídeos são de Amarante Abramovici e os desenhos de Paulo Ansiães Monteiro. No sábado, o “Dizsonante” despede-se do público com os “Uno Duo Trio”, isto é Paulo Maria Rodrigues, Luís Miguel Girão e Rolf Gehlhaar. A performance intitula-se “Cyberlieder” e baseia-se na transformação da tradicional jaqueta do cantor clássico num interface de controle em comunicação com um computador. Ao manipulá-lo, um cantor ou actor processa em tempo real o seu discurso musical, tendo como ponto de partida um conjunto de objectos sonoros e de acções teatrais. O festival termina com a espanhola Maria Durán, que apresenta “Cuisine Concrète”. Trata-se de um espectáculo a partir de sons “cozinhados” com a ajuda de fogões e microfones, cujo resultado é uma obra feita de alimentos e tecnologia, sendo para isso imprescindível, num meio activo e não pré-cozinhado, a qualidade de uns e a fiabilidade ou o “savoir-faire”de outros. Os ingressos custam cinco euros por espectáculo, enquanto o bilhete geral é de 10 euros.
Patrícia Correia