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Dizer bem de Américo Rodrigues

Vim viver para a Guarda desde muito novo. Sou cada vez mais o filho do meu pai e da minha mãe. Lembro-me do Américo desde o Ciclo Preparatório, uma escola linda. Reparei mais nele quando andávamos no Liceu Nacional Afonso de Albuquerque. Já nessa altura era um homem admirável pela frontalidade e inteligência. Depois foi vê-lo dedicar-se a assuntos elevados, um verdadeiro formiguinha-trabalhadora e talentosa e incansável.

É infindável o número de iniciativas, sublinho, de grande qualidade, que levou a cabo. No FAOJ, que ficava na Praça Velha, por cima da Orquídea, promoveu e ajudou a promover do melhor que se podia fazer com os meios de então. Sempre achei, e acho, que foi uma grande sorte para a Guarda o Américo ter enveredado por tal caminho e se manter na sua cidade. Que eu saiba não temos alternativa à Cultura e à Educação na formação e caracterização das cidades e do Homem em geral. O Américo tem sido e é um verdadeiro D. Quixote com os pés assentes na terra e no ar: na terra, porque pugnou e fez; no ar, porque continua a ter fantasia e talento e sonho e vontade para fazer e organizar. Trata-se de um poeta, um organizador de talento, um verdadeiro fautor do melhor que a nossa terra tem produzido.

Desafio-vos a lerem a obra como literata de Américo Rodrigues. A mim, que vivo há muito longe da minha terra, deu-me tanto nas suas crónicas na imprensa da cidade, por exemplo. É um homem cheio de amor. Às nossas gentes, às pessoas, aos animais, a tudo. O seu humanismo é super presente. Leiam por favor uma compilação de crónicas que se chama “O Mundo dos Outros”, por exemplo. Tanta sensibilidade a personagens bem típicas das Beiras! É um rochedo, um verdadeiro granito fundo, leiam o Zé Ganhão. É também evidente que a sua qualidade salta além fronteiras de qualquer provincianismo tacanho. Como animador cultural trabalhou imenso tempo na Câmara Municipal. Nunca aceitou cargos propostos por nenhuma força política para melhorar a sua situação financeira, portanto, é nobre.

Pôr em questão a competência do Américo Rodrigues como director do TMG só mesmo se for para rir. Quanto sonho, quanta fantasia, quanto Bem não trouxe tal senhor às crianças das nossas terras? Mas não só! É reconhecido nacional e internacionalmente, sei-o bem. Encontrei, há tempos, nos meus passeios pela Guarda, o meu melhor professor de sempre e antigo reitor do liceu, Abílio Alves Bonito Perfeito de seu nome. Falámos do Américo: “Um óptimo rapaz, sabedor, trabalhador…” e não sei quantas coisa boas mais disse.

Podem perguntar-me: – Porque diz com esta veemência das qualidades do Américo Rodrigues? Só pode ser amigo dele. Resposta: – Sim, sou amigo dele. Mas digo o que digo porque ele merece. Por muita amizade que haja seria impossível dizer assim dele se o não merecesse. Defendo-o, porque sei que é um homem profundamente bom e humano e porque o maltrataram na Assembleia Municipal e estou indignado com o feito. Acho que todos devíamos ter orgulho do Américo Rodrigues. Quando não, pelo menos alguma gratidão. Alguém me diz o que ele fez que mereça ser maltratado publicamente?

Rogério Pires,

carta enviada por email

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