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Divindades dos Lusitanos

Nos Cantos do Património

Uma pedra de altar romana encontrada na vila da Meda foi consagrada a uma conhecida divindade dos Lusitanos e o seu texto, gravado em latim, permite-nos conhecer um pouco mais sobre as populações que habitaram a Meda há cerca de dois mil anos atrás.

Na parte do texto que foi possível ler na pedra distinguia-se claramente as letras latinas BANDI VORDEAICUI SABINUS CALVINI e, no final, gravou-se a abreviatura habitual A.L.V.S., ou seja, Animo Libens Votum Solvit. Em português actual podemos traduzir assim: “A Bando Vordeaico. Sabino, (filho de) Calvino fez o voto de boa vontade”.

Analisando o texto percebia-se que se tratava de uma invocação à divindade indígena Bando Vordeaico já conhecido noutras regiões da antiga Lusitânia. Curiosamente também em Longroiva se conhecia um altar romano consagrado a Bando Longobrico.

Os antropónimos presentes na inscrição – Sabino e Calvino – eram muito comuns entre as populações que habitaram a região na época romana. O nome do pai do devoto encontra-se, por exemplo, numa pedra de altar de Numão.

Sabemos que estes indivíduos que imortalizaram os seus nomes na pedra da Meda eram indígenas, ou seja, indivíduos que viviam na região antes da chegada dos romanos. A divindade invocada – Bando Vordeaico – é também indígena, sendo venerada por populações “lusitanas”.

A adopção de nomes “estrangeiros” era bastante frequente entre as populações que adoptaram os hábitos romanos fazendo lembrar alguns hábitos actuais. Quantas crianças portuguesas foram baptizadas com nomes de personagens de telenovelas brasileiras e, até, mexicanas?

O elemento histórico mais significativo da inscrição da Meda é, sem dúvida, a divindade a quem é consagrado o altar em granito. Com efeito, Bando é uma divindade indígena de primeira ordem já bastante conhecida do panteão pré-romano e romano da região. Menos frequente é o seu epíteto em Vordeaicui. Provavelmente, esta divindade estaria associada a um castro existente na área da Meda.

Em Longroiva venerava-se Bando Longobrico; na Meda invocava-se Bando Vordeaico. Em Longroiva é um soldado romano da VII Legião Gemina Félix, de nome Quinto Júlio Montano, que consagra o altar. Na Meda é um indígena que vivia na região. E precisamente no Vale da Aldeia, próximo do actual cemitério da vila da Meda, encontram-se as ruínas de uma habitação romana de grande dimensão.

Para complemento da informação ver:

Manuel Sabino G. Perestrelo – Ara a Bando Vordeaico da Meda. Ficheiro Epigráfico. N.º 71. Coimbra. 2003.

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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