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Distrito da Guarda perde mais de sete mil habitantes em seis anos

Sabugal e Almeida são os concelhos mais envelhecidos e que perderam mais população

Em seis anos, o distrito da Guarda perdeu um total de 7.131 habitantes, quase tantos como os que tem, actualmente, o município de Almeida.

Comparando os números do último Censo (2001) com os indicadores publicados, na última semana, nos Anuários Estatísticos Regionais do Instituto Nacional de Estatística (INE), as conclusões são pouco favoráveis à região. Todos os concelhos do distrito viram a sua população diminuir no período em causa, à excepção da Guarda, que ganhou 432 novos habitantes.

O Sabugal é o concelho que perdeu mais população (1.339 habitantes). Segue-se, na “lista negra” da desertificação, Almeida (menos 1.182) e Seia (menos 1.091). Aguiar da Beira manteve o número de residentes mais ou menos constante, tendo-se registado uma diminuição de apenas 39, sendo que todos os outros municípios do distrito perderam, no mínimo, uma centena de habitantes. Na Cova da Beira, o cenário não é muito diferente, já que a Covilhã tem menos 1.954 residentes. No Fundão são menos 294. Belmonte é, no entanto, a excepção que confirma a regra. Talvez fruto das medidas implementadas pela autarquia, nos últimos anos, no sentido de fixar a população, aquele concelho conseguiu mais 144 habitantes.

Por terras do interior, para além da população ser cada vez menos, é também mais envelhecida. Pode soar a lugar comum, é certo. Mas os números confirmam-no, ano após ano. A região continua a ser uma das zonas mais envelhecidas do país, a par do Alentejo e de Trás-os-Montes. Neste capítulo lidera, de longe, o concelho do Sabugal, em que o índice de envelhecimento – a relação entre o número de idosos e a população jovem – apresenta números surpreendentes. Naquele concelho raiano, por cada 100 jovens existem 423 idosos (com mais de 65 anos). Em Almeida, o número baixa para 316, seguindo-se Figueira de Castelo Rodrigo com 289,2. Pode dizer-se, por outro lado, que a Guarda é o concelho mais jovem de toda a Beira Interior – existem apenas 140,4 idosos por cada 100 jovens. Seguem-se a Covilhã (163,3) e Manteigas (183,2).

Cova da Beira tem a maior esperança média de vida do país

Ainda segundo o INE, Figueira de Castelo Rodrigo é o concelho com menor densidade populacional do distrito, com apenas 13,1 habitantes por quilómetro quadrado. Segue-se Almeida (13,9) e o Sabugal (16,5). Ao invés, a Covilhã é o concelho da região que apresenta o maior número de habitantes por quilómetro quadrado (94,6). Belmonte (com 55,1) e a Guarda (62,1) ocupam os lugares seguintes da lista.

Também em 2007, o município que registou a menor taxa de natalidade (número de crianças que nascem por cada mil habitantes) foi o Sabugal (3,3 por mil), seguido de Almeida (4,5 por mil). A Guarda e a Covilhã apresentam os números mais altos, ambas com oito por mil, seguidas de Celorico da Beira (7,3 por mil). É também o Sabugal que encabeça a lista da taxa de mortalidade na região (22,2 por mil). Logo depois aparece Figueira de Castelo Rodrigo (20,1 por mil) e Almeida (19,3 por mil).

Posto isto, a taxa de crescimento natural da população – diferença entre o número de nascimentos e o número de óbitos – é negativa, já que o número de mortes foi superior ao de nascimentos em todos os concelhos das NUT Beira Interior Norte, Serra da Estrela e Cova da Beira. Nenhum concelho é excepção. O Sabugal é o município onde a diferença foi mais acentuada, partilhando o pódio com Almeida e Mêda.

Mesmo assim, nem tudo são más notícias. A Cova da Beira, dizem os números do INE, é a região com maior esperança média de vida à nascença de todo o país (79,07 anos). Na Serra da Estrela o número baixa para 78,01 e na Beira Interior Norte vive-se, em média, 78,59 anos. De resto, o concelho de Belmonte também ocupa um lugar de destaque nos Anuários, mas por ser o segundo concelho a nível nacional com maior taxa de retenção e desistência no ensino básico. Os alunos da vila belmontense são recordistas nos chumbos, com a referida taxa a situar-se nos 20,3 por cento, quando a média nacional é de 10,01.

Opinião

A expressão “êxodo rural” é velha, sinistra, complexante… e está gasta. Não gostamos dela. Não a queremos. Mas a verdade é que “ela anda por aí”.

Podemos ser indiferentes. Ou não olhar para esse mundo cheio de arcaísmos, de cultura, de tradição. Podemos abstrairmos da realidade e não sentir a sangria, a fuga. Ou viver no nosso mundo pomposamente civilizado e moderno.

Entre 2001 e 2007 o distrito da Guarda perdeu sete mil habitantes. Neste período, concelhos como Almeida ou Sabugal perderam cerca de dez por cento da população. Nos demais concelhos o cenário é similar.

Em toda a região apenas Guarda e Belmonte contrariam o flagelo. O concelho da capital de distrito manteve a tendência de crescimento aumentando a população em 432 pessoas. Em Belmonte há mais centena e meia de pessoas – curiosamente este tem sido o concelho mais dinâmico e imaginativo em medidas de apoio aos residentes e na atracção de novos moradores. Nem os concelhos da Covilhã e Fundão conseguem resistir à desertificação. O da Covilhã perdeu entre 2001 e 2007 quase dois mil habitantes – o concelho que perdeu mais população na Beira Interior em seis anos.

Enquanto o Fundão retrocedeu em quase 300 residentes. E Castelo Branco neste período passou de 55.909 para 54.254 habitantes. Ou seja, perdeu 1.655 habitantes.

As muito apregoadas medidas e incentivos ao interior não têm surtido efeito. As oportunidades nas nossas vilas e aldeias são diminutas. Salvo a função pública, nos concelhos da região o emprego é precário e o trabalho árduo. O mundo rural está em extinção, morta que está a agricultura e a lavoura. “Regressar à aldeia” é uma vontade e um desígnio de muitos, mas poucos o podem fazer. Pelo contrário, todos fogem… Não basta falar é urgente ter ideias e capacidade para implementar medidas sustentáveis que salvem as nossas aldeias e vilas.

Luís Baptista-Martins

Rosa Ramos

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