O distrito da Guarda perdeu mais do dobro dos habitantes que tinha conquistado nos Censos de 2001, quando a população residente cresceu cerca de oito mil pessoas. Dez anos depois, a tendência inverteu-se dramaticamente, já que na última década a região ficou sem 19.030 residentes. No distrito de Castelo Branco, o panorama também não é melhor. Feitas as contas, a população da Beira Interior diminuiu 31.144 habitantes.
Os dados preliminares dos Censos de 2011, revelados pelo Instituto Nacional de Estatística na semana passada (ver quadros), são um murro no estômago para os mais otimistas quanto ao futuro do interior. Com pouca indústria, muito menos emprego e perspetivas de trabalho, a região esvai-se inexoravelmente dos seus habitantes sem que haja forma de sarar esta “ferida”. A perda de população é imparável e desta vez nenhum dos 14 concelhos do distrito da Guarda escapou. O caso mais problemático é Seia, que voltou a registar o maior decréscimo da região, com menos 3.503 residentes. Há 10 anos tinha perdido 2.189 habitantes. O Sabugal, um dos concelhos mais envelhecidos do país, é outro caso complicado, pois desta vez conta menos 2.327 pessoas, quando em 2001 já tinha perdido 2.047. No vermelho está também o município de Gouveia, onde se registaram menos 2.033 residentes, enquanto a capital de distrito perdeu 1.362 habitantes na última década. Nos últimos Censos, a Guarda tinha sido a única cidade a crescer na Beira Interior e logo em cerca de 5.000 pessoas. Foi sol de pouca dura confirma-se agora, muito por culpa também do fecho de fábricas, como a Delphi, que nos últimos dois anos mandou para o desemprego mais de 900 pessoas.
O cenário negativo mantém-se nos restantes municípios. Pinhel (-1.339) e Almeida (-1.213) continuam em ritmo acentuado de despovoamento, uma vez que em 2001 já tinham perdido 1.753 e 1.645 habitantes, respetivamente. Às contas de subtrair não escapam ainda Celorico da Beira (-1.180), Vila Nova de Foz Côa (-1.176), Mêda (-1.076) e Trancoso (-935). A perda de população foi menor em Figueira de Castelo Rodrigo (-899), Fornos de Algodres (-638) e Manteigas (-623), mas, por mais pequena que seja, esta redução acelera a desertificação de concelhos já de si pouco populosos. No distrito de Castelo Branco, o destaque vai para a diminuição dos habitantes dos concelhos da Covilhã e Fundão, que perderam juntos mais de 5.000 pessoas na última década. Só o município da “cidade neve” registou um decréscimo de 2.735 residentes, enquanto o Fundão ficou sem 2.310. Em sentido contrário, Castelo Branco ganhou 325 habitantes e Vila de Rei 95, sendo estes os únicos concelhos da Beira Interior com saldo positivo nos Censos de 2011.
Também os indicadores relativos às famílias assinalam uma diminuição generalizada dos agregados, destacando-se o Sabugal que perdeu 808 famílias na última década. Aguiar da Beira (-126), Almeida (-261), Celorico da Beira (-223), Figueira de Castelo Rodrigo (-271), Manteigas (-97), Mêda (-225), Pinhel (-353), Trancoso (-138), Fornos (-167), Gouveia (-396), Seia (-225) e Vila Nova de Foz Côa (-360) são outros casos. Só a Guarda (+619) escapa esta tendência, o mesmo efeito aglutinador verifica-se em Castelo Branco, o único município daquele distrito a registar mais famílias (+1.737) do que em 2001. Contudo, enquanto a população tende a diminuir, o número de edifícios e alojamentos não pára de subir. Neste item, o INE apurou igualmente 114.238 edifícios no distrito da Guarda (+7.644 do que há dez anos) e 130.441 alojamentos (+9.405). Em Castelo Branco, há 114.595 edifícios (+8.123) e 149.109 alojamentos (+13.961). Numa comparação entre capitais de distrito, a Guarda é uma das poucas cuja população decresce na zona interior, a par de Portalegre. Os residentes aumentam em Bragança (+569), Vila Real (+2.262), Viseu (+6.092) e Évora (+554).
Luis Martins 
