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Discussões

Discute-se muito, por estes tempos. As matérias não faltam e há temas para todos os gostos: o casamento de homossexuais, a corrupção, o desemprego, a crise global, a crise nacional, a crise do Sporting, a lesão do Cristiano Ronaldo, as escutas telefónicas, a nova realidade parlamentar e a possibilidade de eleições antecipadas, a gripe A e a vacinação contra a gripe A, os grandes investimentos, o ressuscitar do Benfica, o apuramento de Portugal para o Mundial da África do Sul, Saramago e a Bíblia, a suspensão ou substituição da avaliação dos professores – tudo isto sem esquecer o nome do novo governador civil da Guarda, se for um “ele”. Isto a não querer retomar outras discussões, mais antigas mas ainda pendentes, como os processos Casa Pia ou Apito Dourado, os projectos de Sócrates na Guarda, a gripe das aves, o choque petrolífero, a questão palestiniana, o Iraque, o Afeganistão, a emergência da China, da Índia e do Brasil, o terrorismo, a crise demográfica, o défice orçamental, a dívida pública, a sustentabilidade e viabilidade da República, o tabaco e a proibição do seu uso, as grandes doenças como o cancro e o Alzheimer ou a oportunidade da independência da Madeira.

Se o leitor folhear os jornais e percorrer os artigos de opinião, concluirá que boa parte destes temas ocupam a grande maioria das crónicas e dos editoriais. Também a maior parte das notícias, já agora. Mas não é de admirar, que no fundo é de tudo isto que é feito o nosso tempo e estas são as nossas principais preocupações. Não é?

O que há de novo é que os assuntos de primeira página vão rodando diariamente, passando-se de um tema para outro sem a conclusão lógica do anterior. Falou-se das escutas a Belém e fala-se agora das escutas a Sócrates sem sabermos muito bem que conclusões tirar das primeiras, a não ser que não estávamos tão embaraçados pelas figuras feitas por um nosso Presidente da República desde os tempos de Américo Tomás. É como se os jornais tivessem um qualquer acordo secreto sobre como ir influenciando e dirigindo as preocupações da opinião pública. Quando se começa a falar demasiado em corrupção, começam a sair notícias sobre futebol, ou sobre a Gripe A (o leitor sabia que morreram dois fetos na última semana pouco depois de as mães serem vacinadas?), ou sobre o último massacre no Iraque, ou no Paquistão. Quando a crise económica parece não ter saída e o desemprego bate recordes, começa um debate urgente sobre o casamento entre homossexuais e a possibilidade de estes adoptarem.

Se repararem há questões importantes, na minha lista, e outras que nem por isso, e outras ainda, talvez até mais importantes, por exemplo a opção pela energia nuclear, que pouco têm sido faladas. Repararão também que a comunicação social portuguesa é dominada por dois ou três grandes grupos empresariais e saberão, certamente, que a economia portuguesa é dominada por outros dois ou três grandes grupos empresariais, cruzados ou não com os primeiros. Mas estamos já perigosamente perto de mais uma teoria da conspiração.

Uma maior atenção às notícias e aos silêncios, e aos grandes ruídos, permite adivinhar uma guerra surda entre quem realmente manda em Portugal – e não são os partidos. Há grupos que estão na mó de cima e outros que tentam chegar lá, há outros que se vão formando e criando as suas áreas de influência. É um pouco como a Chicago dos tempos da proibição, só que muito mais discretamente. Ou então é apenas a influência do inverno que chega num dia um pouco mais aborrecido do que os outros.

Por: António Ferreira

Comentários dos nossos leitores
jose perfeito joseramosrn@hotmail.com
Comentário:
O Dr Ferreira parece ter acordado agora, mas não, não acordou. Ele nem sequer pensa assim. Foi só um pesadelo. Já agora, de que lado tem estado? Dos grandes grupos ou da teoria da conspiração?
 

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