Arquivo

Direcção da RCC toma partido da Câmara da Covilhã

Jornalistas da emissora acusados de falta de profissionalismo

A direcção da Rádio Clube da Covilhã quebrou o silêncio que vinha mantendo ao longo das últimas semanas sobre a polémica que envolve dois jornalistas da cooperativa e a Câmara local. Num comunicado enviado à imprensa, assinado pelo vice-presidente Luís Proença, a direcção condena o comportamento dos jornalistas «cuja conduta profissional vem merecendo censura pública de instituições da cidade», acusando-os ainda de terem tido uma «atitude de afronta aos órgãos legitimamente eleitos» ao terem desviado «abusivamente» documentos internos para a sua publicitação na comunicação social.

A tomada de posição dos dirigentes da cooperativa surge na sequência das notícias recentes sobre a pressão que o presidente do município covilhanense tem exercido junto daqueles jornalistas desde Setembro último. Recorde-se que Carlos Pinto derrubou deliberadamente o microfone da jornalista Patrícia Figueiredo, que foi mais tarde impedida de entrar numa conferência em que estavam presentes outros jornalistas e acusada num fax da Câmara de estar ao «serviço de forças políticas minoritárias» (ver edição 252 de “O Interior”). «Censura» que para a direcção da emissora apenas acontece pelo facto dos jornalistas «utilizarem a rádio como instrumento sectário conduzido por outros interesses». Daí que «para limpar o bom-nome» da instituição e repor a isenção dos dirigentes, a direcção vai proceder a uma «completa reformulação da programação e informação, bem como do seu corpo de colaboradores», comunica. “O Interior” tentou contactar o vice-presidente da cooperativa, Luís Proença, mas este não se mostrou disponível para explicar a reformulação que a rádio local vai sofrer. Já Luís Fonseca, um dos jornalistas visados pela direcção, confessou estar «desiludido e chocado» com a postura da direcção que apoia a autarquia na «violação de direitos fundamentais como a liberdade de expressão».

O jornalista rejeita ainda as acusações da direcção, ao desmentir que a rádio tenha tido outros problemas de instituições públicas da cidade. Quanto às restantes acusações da direcção, Luís Fonseca adiantou apenas que «devido à sua gravidade, está-se a proceder actualmente a uma reflexão detalhada e cuidada de cada ponto. Estamos de consciência tranquila e o nosso silêncio nesta situação é que seria uma gritante violação enquanto jornalista», acrescenta. O Sindicato dos Jornalistas (SJ) também já repudiou publicamente o apoio da direcção da rádio à Câmara e a «posição de ataque» aos jornalistas que ali trabalham, «sem hesitar sequer em atingir a sua dignidade». Em comunicado divulgado no final da semana passada, o SJ acusa os dirigentes da cooperativa de estarem a «manchar a imagem da rádio e a desferir um golpe muito rude nas audiências da estação que diz pretender preservar». De resto, o sindicato considera que o apoio a quem viola o direito do público de ser informado traduz apenas a «subjugação da estação ao controlo político-partidário e uma insanável incompatibilidade entre as funções que os seus responsáveis exercem na cooperativa e os cargos que ocupam na autarquia local e numa organização partidária».

PCP exige responsabilização da autarquia

O Partido Comunista Português (PCP) também já repudiou, em conferência de imprensa, a atitude da maioria social-democrata na Câmara da Covilhã e vai enviar todos os documentos e notícias que foram publicadas sobre o assunto ao SJ, à Alta Autoridade para a Comunicação Social e ao seu grupo parlamentar na Assembleia da República para o assunto poder ser apreciado na Comissão de Direitos, Liberdades e Garantias. «A maioria tem que ser responsabilizada por este comportamento. Não é o mau humor do presidente, nem as dificuldades de inter-relacionamento que está em causa. É muito mais grave do que isso», disse Jorge Fael, para quem a autarquia tem excedido todos os limites do «autoritarismo» numa constante «chantagem e pressão inqualificável». «É o comportamento de uma autarquia que vive mal com a imprensa e a crítica, no estilo já conhecido de “quem não está comigo, está contra mim”», denuncia.

Miguel Nascimento também se mostrou preocupado com as pressões que os jornalistas da RCC têm sofrido e condenou a posição do vereador e presidente da concelhia do PSD, Joaquim Matias, durante uma entrevista naquela cooperativa. Questionado sobre o assunto, o autarca Carlos Pinto recusou-se a «comentar anedotas».

Liliana Correia

Sobre o autor

Leave a Reply