Arquivo

Direcção da Adega da Covilhã isolada

Sócios rejeitaram proposta de transformar a dívida de 514 mil euros, relativa à colheita de 2004, em capital social

Os sócios da Adega Cooperativa da Covilhã chumbaram na última assembleia-geral a proposta de transformar as dívidas relativas à campanha de 2004, na ordem dos 514 mil euros, em capital social. O plano foi apresentado na passada sexta-feira pela direcção da cooperativa, que o encarava como uma possibilidade de «optimizar e sustentar o futuro da adega», disse a “O Interior” Bidarra Andrade, presidente da direcção, negando, no entanto, que a mesma se encontre numa situação financeira complicada.

«Está como estava há quatro anos. Não vive uma situação estável, mas não está em ruptura financeira», disse, acrescentando que a dívida total – embora não revelada – vem sendo reduzida «em cerca de 51 por cento de há três anos a esta parte» devido a «uma gestão rigorosa, à redução de custos e reorganização interna». Trata-se, ressalva, de uma dívida à banca, pois «não devemos nada aos fornecedores», adiantando que a actual direcção está «consciente, responsável e empenhada» em tomar medidas para solver os problemas financeiros. Por isso, a proposta apresentada aos sócios é «normal» numa empresa que pretende resolver os problemas «não só no imediato, mas para o futuro», salienta Bidarra Andrade. Por outro lado, esta solução seria uma forma de resolver um impasse que se arrasta há dois anos e que a cooperativa não tem tido possibilidades de pagar face aos resultados negativos obtidos nos últimos anos. «Temos que traçar um quadro de prioridades. Se pagássemos neste momento esta importância, iríamos ter dificuldades em lançar outras actividades e comprometer acções futuras da adega», explica o presidente da direcção, salientando que o mais importante agora é garantir a sobrevivência da cooperativa no futuro.

Ao que tudo indica, a rejeição dos sócios terá ficado a dever-se à situação económica da Adega da Covilhã, mas também ao facto da direcção «não ter sabido explicar à assembleia, de forma coerente, as razões que levam ao aumento e alteração do capital», disse a “O Interior” Dias Rocha, um dos associados. «Pessoalmente, considero injusto colocarmos o nosso produto em algo que não nos dá garantias», explicou, acrescentando que muitos associados, principalmente os pequenos vinicultores, estão «desesperados porque não conseguem tirar rendimento» das uvas que colocam na cooperativa. «Há dois anos que não recebemos nenhum centavo pelas uvas», critica, apontando ainda o dedo à forma como está a ser feito o pagamento da campanha de 2005. «Fizeram um acordo com uma instituição bancária sem nos consultarem, no âmbito do qual os sócios ainda têm que pagar juros», acusa. E exemplifica: «Um produtor, que entregou mais de 6 mil quilos de uvas, foi confrontado com uma situação extraordinária. Em vez de receber, teve que pagar 127 euros à instituição bancária, provavelmente por causa de algumas dívidas que tinha com esta instituição», apontou, considerando tratar-se de uma solução «injusta e incorrecta» para quem tem que sobreviver das receitas da vinha.

Demissão ponderada

«A direcção devia encontrar outros caminhos para resolver os problemas. Se não tem capacidade, então que se demita», desafia Dias Rocha, visto que neste momento os sócios «não têm quaisquer garantias de que a colheita de 2006 vai ser paga» tendo em conta as dificuldades financeiras que a cooperativa atravessa. Perante este cenário, o médico considera que a actual direcção não tem tido a «dinâmica necessária» para resolver os problemas, como diz comprovar-se com o facto de «se terem estragado 800 mil litros de vinho na época passada e não se ter apurado os responsáveis num inquérito conduzido para o efeito». A direcção reúne-se hoje com os restantes órgãos sociais da Adega de forma a encontrar eventuais alternativas à não aprovação desta proposta. «A direcção está receptiva a outras ideias que vão ao encontro de um futuro sustentado», avisa Bidarra Andrade, que não coloca de parte a possibilidade de se demitir do cargo. «Se os sócios não estão de acordo com o nosso plano, objecto de trabalho, análise e estudos científicos, não nos resta outra opção», garante.

Liliana Correia

Sobre o autor

Leave a Reply