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Diesel 08 a 192 euros

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Num dia de muito Sol, Verão quente, carros sob o calor do vento trazido aos repelões. Aquele bafo que antecede a tempestade, “a boca do Lobo”, como diria a minha avó, um tremendo mal-estar entre as pessoas. Gesticulando das janelas abertas, alguns, insultando-se outros. Poucos afortunados com os vidros trancados e o ar fresco ligado. Na borda da estrada milhares de carros parados com ervas frescas por baixo. Bombas de gasolina desertas e muitas bicicletas. Por vezes, uma família empurrando mais um carro para a borda da estrada. Esta noite vão apagar as luzes das cidades e a iluminação dos centros comerciais. Há restrição de energia e dependíamos muito do fuel e do diesel, agora a 230 dólares.

Paris arde na margem esquerda, entre bastonadas de polícia e militares a exercer a ordem e autoridade. Lisboa com motins nas cadeias e mortos nos confrontos da Praça do Comércio. Há graves distúrbios em Moscovo, onde as oligarquias se combatem a tiro pela posse dos oleodutos. Dependente do petróleo russo, a Ucrânia colocou os seus tanques na fronteira com os vizinhos. O Brasil está em guerra, com milhões de “favelados” a descer Copacabana de armas na mão. “A pobreza não vai morrer de fome, isolada no morro” – gritam. Com o Diesel 08 ao preço de 192 euros, a China descobre como há milhões de descontentes e como a perda de qualidade de vida pode ser tumultuosa. Nestes dias tudo se discute, tudo se azeda e todo o bom senso se empertiga. Mais carros que param enquanto as notícias correm violentas no meu rádio. Sei que não vou andar mais nos próximos dias. Sei que não cumprirei novamente com o sistema biométrico. Sei que este ano as crianças vão ter cortes orçamentais e perceber que há um paradigma novo – a diáspora, a contenção, a opção barata, o custo valorado de cada decisão, as férias em casa. O Mundo é um ser tão frágil que pode mudar em poucos dias.

Por: Diogo Cabrita

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