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Diário Interior

3 de Novembro

Numa sondagem feita à população da União Europeia, Israel foi considerado o país mais perigoso para a estabilidade internacional. Se não houvesse outros indícios, esperaria que houvesse apenas aqui uma confusão entre o estado israelita e o governo de Sharon. Mas é improvável. Desde a Idade Média que os problemas da Europa foram sucessivamente atribuídos aos Judeus. Os resultados foram sempre desastrosos. E mesmo assim, não se aprendeu nada.

5 de Novembro

Os estudantes universitários marcham em Lisboa contra as propinas. Exigem que haja “solidariedade” sem perceber que é precisamente esse o conceito por trás da reforma. Menos igualdade, mais solidariedade. Paga quem pode, recebe quem precisa.

6 de Novembro

Vejo Crueldade Intolerável, o último filme com a marca dos irmãos Coen. O que mais gosto nos filmes destes irmãos é a forma como controlam a narrativa, seja em policiais, em comédias absurdas ou em screwballs como este. Clooney fica melhor como galã em comédias como esta do que em grandes papéis dramáticos e Zeta-Jones faz papel de cabra como provavelmente ninguém hoje em Hollywood.

8 de Novembro

Ferro Rodrigues não sai da liderança do PS. Ferro Rodrigues avisa que podem aparecer mais calúnias contra ele. O PS não se importa. Deixa que o barco vá ao fundo de vez. O PS “enferrujou” e agora alguns cabos de mar estão à espera que o resto estale todo para poderem aparecer a dar brilho ao casco.

9 de Novembro

Catalina Pestana, com a prancha sempre na mesma onda, critica a República por não agir com a celeridade do rei D. Miguel, quando este deportou um sobrinho para a Índia por abusar de crianças da Casa Pia. Tribunais independentes do poder político e a velha separação de poderes não dizem nada a D. Catalina. Para eliminar aqueles que ela acha culpados a senhora provedora nem se importava de viver num regime absolutista.

10 de Novembro

Álvaro Cunhal fez 90 anos. Não sou dos que admiram a coerência ideológica do senhor. Não posso respeitar quem, em nome de uma qualquer coerência, tenha defendido (e continue a defender) os criminosos regimes comunistas que existiram e ainda existem por esse mundo fora. Fazer elogios, ainda hoje, a Fidel Castro ou Kim Il Sung como combatentes do imperialismo é valorizar princípios ideológicos acima dos indivíduos. Pode ser coerente, mas é também absolutamente desumano.

11 de Novembro

Na The Economist desta semana, um dossier sobre a América. Grande perigo ou grande esperança, pergunta-se na capa. A Europa continua a olhar desconfiada para a América. Percebe-se. A América foi construída com sucesso por todos aqueles que a Europa e o Mundo rejeitaram ou não souberam aproveitar. Veja-se como a religião na América é usada como força motriz da liberdade e do empreendimento cívico, ao contrário do que acontece na Europa, e entende-se melhor a perplexidade, o fascínio e o ciúme que o Velho Continente sente pelo Novo. De uma coisa não tenho dúvidas. O Mundo está melhor com a América do que estaria sem ela.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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