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Dia de S. Sebastião comemorado no Carvalhal da Atalaia como manda a tradição

Os cerca de 40 habitantes da pequena aldeia do concelho de Pinhel saíram à rua no “feriado local”

A seguir à hasta pública, as pessoas da aldeia cantam e dançam em redor das brasas, onde vão grelhar os enchidos arrematados. «Antigamente, cada família criava e matava um porco. Hoje, já não é assim, mas tentamos manter viva esta tradição», refere o habitante. Actualmente a festa maior é comemorada em Agosto, «quando a aldeia fica cheia de pessoas, imigrantes que deixaram a terra», acrescenta Vasco Pereira, que ressalva, no entanto, que os residentes nunca deixam passar em branco a «data verdadeira». Entretanto, um grupo de amadores com guitarras e bombos percorre as sinuosas ruas, não asfaltadas, do Carvalhal a pedir as Janeiras, enquanto entoam velhas canções. Ao fim do dia todos regressam ao forno comunitário para provar as iguarias angariadas.

A arte do acaso é significativa por estas paragens e encontra-se talhada na rudeza dos muitos barrocos. As gentes desta terra foram ensinadas a transformar as «espadas em relhas de arado e a forjar foices das espadas», adianta Vasco Pereira, recordando um velho dizer local. Do trabalho e dedicação à terra nasceu também a Associação Desportiva e Cultural “Os Amigos do Carvalhal”, fundada em 1985, que criou uma área museológica onde se podem observar peças ou fotografias de profissões e modos de vida que caíram em desuso. O espaço revela ainda todo o percurso do linho, da semente ao fio e ao bragal de linho de noiva do Carvalhal, que se transmite de geração em geração: «Este era dos meus avós. Usava-se na primeira noite de núpcias», diz orgulhosamente Vasco Pereira, apontando para uma velha manta azul exposta na parede. Noutro compartimento há uma cozinha tradicional da Beira e um conjunto de artefactos ligados aos ofícios de carpinteiro, sapateiro, barbeiro e ferreiro, bem como balas e bombas deixadas pelas tropas francesas, que por ali acamparam na sua retirada para Almeida durante a terceira invasão de 1810. Ao lado do pequeno museu encontramos a Casa do Serão, actualmente em obras de restauração. «O serão era um espaço misto de convívio e trabalho. Ali, os homens conviviam e as mulheres fiavam ou faziam croché, mas também se tocava concertina, cantava-se e contavam-se histórias», evoca o presidente da associação.

Patrícia Correia

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