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Destroços do Verão

Os meninos da ilha do Sal lá saberão porquê, mas não estão muito surpreendidos com o acórdão do processo Casa Pia. Já muitos, cá, parecem surpreendidos com os atrasos na sua entrega, menos os desgraçados que utilizam diariamente o Microsoft Word, conhecem as suas dificuldades com textos longos e verificaram as suas impossibilidades com textos mesmo longos, por exemplo com mil e novecentas páginas. Ainda por cima com os computadores disponibilizados pelo Ministério da Justiça.

A Federação Portuguesa de Futebol decidiu despedir Carlos Queiroz no auge da “Silly Season”, aproveitando um episódio com uma visita da comissão anti-doping ao estágio da Selecção na Covilhã. Carlos Queiroz terá dificultado ou impedido os trabalhos dos membros da comissão, utilizando uma linguagem pouco abonatória para as mães dos próprios e insinuando, entretanto, que os médicos deveriam ter dúvidas sobre a identidade dos seus progenitores. Isto não é interessante e não merece nem notícia nem processo disciplinar, que quando dirigentes de clubes de futebol de topo escolhem namoradas em lupanares, a indústria tem de escalonar os seus valores em conformidade. O que deveríamos estar a perguntar uns aos outros e que deveria ser o objecto do processo disciplinar é tão só isto:

Os jogadores da Selecção estavam dopados e Carlos Queiroz quis evitar que se descobrisse? Se não era isto que se queria saber, então que os médicos ofendidos intentassem eles próprios processos ao Carlos Queiroz, ou lhe fossem às trombas. O futebol é negócio de homens, não é?

O governo prometeu reduzir o défice e a despesa pública. Aumentou ambos. Passos Coelho criticou o facto e, quando lhe pediram respostas, disse que está tudo ao contrário: é a oposição quem tem de governar, e não ensinar o governo a fazê-lo, e é o governo quem está a fazer oposição em lugar de governar. O sound bite é engraçado, ao menos para os apaniguados, mas não tranquiliza aqueles que, como eu, exigem respostas às perguntas complicadas: sabemos todos que o Estado precisa de gastar menos dinheiro, mas ninguém diz onde deve ser feita a redução da despesa. Em contrapartida, todos parecem saber onde se não deve reduzir a despesa ou, até, onde a mesma deve ser aumentada. O que Passos Coelho e Sócrates mostram é que não estão capacitados para governar, que não têm a mínima ideia de como sair da crise e que nenhum deles sabe como explicar aos portugueses que, apesar da nossa evidente pobreza, vivemos acima das nossas possibilidades.

Pouco a pouco vai-se embora o calor. Hoje, sob um tecto de nuvens, chegou o Outono. Dia a dia vão começar a faltar as horas de sol. Recomeça o ciclo, mas não da melhor maneira, que quando entrar o inverno vamos dever mais dinheiro, vamos ter de pagar mais impostos e, pior, vamos ter os mesmos políticos.

Por: António Ferreira

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