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Desmistificar o Radão

Decorreram nos pretéritos dias 14 e 15 de Maio as Jornadas do Radão. Tivemos o prazer de poder receber as comunicações de um painel de intervenientes de elevada qualidade dos mais diversos meios e origens da investigação científica (e não só) em Portugal, que vão desde o Laboratório de Radioactividade Natural de Coimbra, ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, passando pelo Instituto de Tecnologia Nuclear, a Faculdade de Ciências da UBI, a Faculdade de Ciências Médicas da UL, o Laboratório de Investigação de Partículas da FCUL, ou ainda a Empresa de Desenvolvimento Mineiro. Jornadas que decorreram no âmbito de uma tese de doutoramento da Prof. Alina Louro da Escola Secundária Afonso de Albuquerque (ESAA), que está integrada num projecto intitulado “Riscos para a saúde humana da exposição ambiental ao Radão”, coordenado pelo Dr. Luís Peralta da FCUL-LIP. Estiveram também presentes médicos do HSM que contribuíram para este tema. Estas Intervenções foram intercaladas com mesas redondas e a participação de alunos do 12º ano da E.S.A.A, que no âmbito das disciplinas de Área-Projecto levaram bem alto o nome da sua escola, honraram e deixaram orgulhosos os seus professores. Parabéns a todos!

Perante este painel de excelência (peço desculpa se me esqueci de alguém), seria de esperar uma adesão em massa por parte da comunidade. Infelizmente, (não foi por falta divulgação), a população da Guarda não aderiu, pior para eles. Tinham ali uma oportunidade de esclarecer dúvidas e aprender. Os políticos, salvo honrosas excepções, evitaram aparecer. Parafraseando Américo Rodrigues, foram as “Jornadas Clandestinas”. Da intervenção, infeliz, de Sua Exª o Governador Civil, fica a mensagem de que não se devem levantar ondas com este tema porque isso pode ter como consequência o afastamento de investidores e estamos em crise. Desconhece Vª Exª que o Dec.-Lei 79/2006, de 4 de Abril, que falta regulamentar, diz na sua alínea c) claramente que “(…) a pesquisa do radão é obrigatória(…)? Como quase sempre as leis são feitas mas não são aplicadas. Voltando à vaca fria. O radão a afastar investidores? Quer dizer então que, por exemplo, em Lisboa, os investidores também se afastariam por ser esta a cidade do país com o maior risco sísmico? Ou afastar-se-iam da Madeira por ser a cidade com maior risco de movimentos em massa? Ridículo. Podia ter-nos poupado. O que Vª Exª fez foi passar aos técnicos, investigadores, médicos e professores presentes um atestado de inutilidade e de extemporaneidade, dizendo-lhes, na prática, que deveríamos ter estado quietinhos e não levantarmos ondas. Aliás essa foi também a mensagem, pela ausência, do Sr. Presidente da Câmara, que arranjou maneira de não comparecer, mesmo depois de ter dito que compareceria. Como contribuinte e cidadão, tenho o direito de ser informado, a título particular e sigiloso, do estado de exposição ao Radão na minha habitação, tenho também o direito de implantar a minha casa num terreno com níveis aceitáveis deste gás radioactivo. Foi por isso que pedi nestas Jornadas a elaboração de uma Carta de Risco do Radão, numa primeira fase, para as novas urbanizações da cidade e, mais tarde, quando este assunto já não for tabu, para o resto da cidade, pois, se nas zonas sísmicas as construções têm que ser parassísmicas, na mesma linha de pensamento a Guarda deverá ter construções que obedeçam a critérios de mitigação do Radão (no caso de habitações já construídas) ou deverá evitar-se a todo o custo a construção em zonas de elevado risco para este gás. Só que para isso é necessário que determinadas negociatas deixem de se fazer e que o cidadão seja posto em primeiro lugar, o que, atendendo ao “status quo” da Guarda e do país afigura-se-me difícil.

Resta-me dizer-lhe, caro leitor, que a maior parte das vezes livrar-se do radão na sua habitação é relativamente simples e barato, que sempre convivemos com este gás e que, se não for fumador, as hipóteses de contrair cancro do pulmão por exposição prolongada (leia-se: muitos anos) a este gás reduzem-se grandemente. No entanto, a primeira coisa que deverá fazer é solicitar a colocação de um dosímetro, que poderá solicitar através da página do LRN da FCTUC em http://www.dct.uc.pt (os resultados são confidenciais). Se quiser obter ainda mais informação poderá consultar a página da Agência de Protecção Ambiental dos EUA em: http://www.epa.gov/radon/pubs/citguide.html onde poderá encontrar um guião completo para este gás (tem uma versão em castelhano) ou poderá ainda consultar a página feita por alunos da ESAA no âmbito da disciplina de Área-Projecto, em http://radao.webs.com/ .

Por favor, não faça como alguns políticos e autarcas, não esconda a cabeça na areia fingindo que não tem um problema. O Radão não é nenhum papão, o Radão tem solução. Cuide-se!

Por: José Carlos Lopes

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