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Desemprego em queda desde Janeiro

Inscritos no IEFP aumentaram em Julho, comparativamente ao mês homólogo de 2007, mas colocações também cresceram

A taxa de desemprego na região da Guarda tem descido desde o início do ano, adianta Armando Reis, director do Centro de Emprego e Formação Profissional da Guarda (CEFPG), que abrange os concelhos da Guarda, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Aguiar da Beira, Sabugal e Manteigas. No entanto, apesar de uma descida de 8,6 por cento desde Janeiro, o desemprego aumentou 16,5 por cento no mês passado comparativamente a Julho de 2007.

Em 2007 estavam inscritos no CEFPG 2.342 trabalhadores, tendo o ano terminado com 2.965 desempregados, que passaram a 2.728 até ao final do mês passado. Para Armando Reis, o desemprego subiu nos últimos 12 meses devido ao encerramento de algumas unidades têxteis nos Trinta, à quebra no mercado da construção civil e a alguns despedimentos de pessoas ligadas a empresas de trabalho temporário ao serviço da Delphi. Para além disso, muitas pessoas que não estavam inscritas no Centro de Emprego decidiram fazê-lo na expectativa de surgirem novos postos de trabalho em vários ramos de actividade no centro comercial Vivaci. Tendência oposta é a que se verifica apenas entre Janeiro e Julho de 2008. O director do CEFPG da Guarda justifica a descida do desemprego com «uma melhor e mais eficaz» procura da oferta de emprego. «Há muitos anos que não efectuávamos 100 colocações num único mês, o que aconteceu em Julho último», adianta.

O responsável também não esquece o adiamento dos despedimentos de cerca de 400 trabalhadores da Delphi neste Verão, algo «fulcral para dar alguma estabilização ao mercado de emprego e ao nível social e económico». Porém, «é fundamental que no curto espaço de tempo surjam pequenas empresas que criem seja cinco, 10 ou 20 postos de trabalho na Plataforma Logística», defende Armando Reis. E avisa que só assim se conseguirá dar sustentabilidade aos investimentos em curso na Guarda, pois «para se comprar é preciso haver dinheiro e para haver dinheiro tem de haver produção de riqueza». Armando Reis critica também o facto da Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) da Guarda continuar sem empresas: «É importante vender aquele produto [a PLIE], o que não tem sido bem conseguido. A forma como tem sido conduzida do ponto de vista do marketing não é a melhor», critica.

O director do Centro de Emprego incita, por isso, a autarquia a resolver este impasse, recordando que a situação de despedimentos na Delphi «há-de acontecer um dia, por causa dos avanços tecnológicos. Aquele conjunto de postos de trabalho ligado às cablagens é insustentável no médio e longo prazo». Nesse sentido, cita o exemplo de uma entrevista que Belmiro de Azevedo deu à RTP há alguns meses, em que o empresário referiu o posicionamento estratégico da Guarda, para perguntar se alguém contactou aquele empresário a seguir. «Era importante tê-lo convidado para visitar a Guarda e perguntar-lhe o que é precisa para investir aqui», acrescenta. Em termos políticos, o antigo dirigente socialista acha que a PLIE já deu o que tinha a dar e descarta a possibilidade de Joaquim Valente usar o projecto como trunfo eleitoral nas autárquicas do próximo ano: «A Plataforma já foi usada politicamente há alguns anos. Poderá ser usada se se disser que estão lá algumas empresas, mas não a dizer que virão, num sentido de promessa», aconselha.

Procura abaixo da oferta desanima empresários

Se o desemprego está a descer desde Janeiro, também é verdade que em 2008 só o mês de Junho teve mais colocações que ofertas de trabalho. Em Janeiro, Março, Abril, Maio e Julho, as colocações foram mesmo inferiores a metade das ofertas. O curioso é que vários empresários queixam-se de falta de mão-de-obra e das justificações apresentadas pelos candidatos que, mesmo quando aceitam a vaga, abandonam o posto poucos dias ou semanas depois. Catarina Silva é proprietária de um café na Guarda-Gare e procura uma jovem empregada de balcão. Desde a última semana já entrevistou cinco pessoas. Das três candidatas enviadas pelo Centro de Emprego, nenhuma aceitou a proposta de trabalho. «Duas delas queixaram-se do horário, pois têm filhos. A terceira disse que não sabia trabalhar com a caixa registadora», lamenta. Catarina Silva entrevistou ainda duas candidatas espontâneas. Uma delas estava disposta a trabalhar a partir do fim da tarde, após o horário num outro emprego que quer manter.

Já a candidata que em breve trabalhará à experiência aceitou esta oferta com o argumento de que «trabalha mais e ganha menos» no emprego anterior. «Quem quer trabalho aceita, mas as pessoas preferem ficar em casa a receber subsídio», lamenta a jovem comerciante. Caso semelhante é o de Luís Laginhas, proprietário da AquaCôa. A empresa de sistemas ambientais tem um quadro estável de seis funcionários, mas nos últimos meses já por lá passaram outros tantos trabalhadores. «As pessoas procuram emprego e não trabalho. Dizem que não estão interessadas e preferem passar de uma situação de empregadas para desempregadas», lamenta o empresário, que se mostra desagradado com a situação: «É péssimo. As pessoas fazem formação e depois não dão produtividade», acusa. Luís Laginhas garante que está disposto a empregar imediatamente duas pessoas e que nem se trata de trabalho temporário, mas de situações estáveis e prolongadas.

Na Termolan, que deverá abrir em Vilar Formoso até Novembro, o director-geral António Gonçalves depara-se com o mesmo problema, mas a uma escala muito maior: «Temos tido dificuldade em encontrar sobretudo pessoal técnico. Neste momento ainda precisamos de recrutar mais 50 pessoas», adianta. O Centro de Emprego de Pinhel já foi informado da situação, mas, se o problema não for resolvido, a empresa nortenha já encontrou alternativa. «Se não houver pessoas na região de Vilar Formoso levamos pessoal da zona do Vale do Ave. Até já comprámos casas para essa eventualidade», revela António Gonçalves.

Igor de Sousa Costa

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