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Desemprego em alta

Editorial

1. É estranho que os portugueses não manifestem qualquer preocupação em relação a coisas fundamentais. Os chineses compraram a EDP e isso preocupa-me. Irrita-me porque se agora pagaram mais do que outros e o dinheiro da venda da parte do Estado dá muito jeito para tapar os buracos que os nossos governantes abriram, haverá um momento em que irão cobrar e com juros. Como escreveu Miguel Sousa Tavares, a EDP irá continuar a ser a empresa pessoal do senhor Mexia e nós continuaremos a pagar a eletricidade a preço de monopólio (e uma das mais caras do mundo), e que é um dos fatores de produção que nos diferencia negativamente dos nossos parceiros e contribui para o nosso atraso. Os chineses ofereceram o melhor financiamento e prometem mais investimento industrial. Certo. O que é preocupante é que ficam com um monopólio altamente rentável e cujos preços podem continuar a aumentar de forma escandalosa sem que ninguém se oponha. Os espanhóis vão ficar com o espaço aéreo. Os angolanos com a Galp ou com a REN. A TAP, que é o nosso ícone empresarial e marca referência no mundo, está a ser oferecida aos brasileiros. E, como se tudo isto fosse pouco, a água deverá ser vendida aos alemães. O anterior governo mandou o país pelo precipício abaixo, entregou a nossa independência aos alemães e este governo vende os anéis a quem der mais, ficam os dedos… E um povo martirizado e cansado de pagar impostos, estigmatizado pelo anátema da falência declarada por Sócrates e pela baixa estima que lhe oferece Passos Coelho. E perante tudo isto ninguém levanta a voz de forma estridente para se fazer ouvir; ninguém clama pela defesa da política para as pessoas.

2. O desemprego em Portugal vai atingir este ano valores históricos. As medidas de flexibilização no mercado de trabalho dificilmente irão de encontro às necessidades de criar trabalho. O governo deveria criar mais medidas de apoio às empresas, e em especial às empresas exportadoras. O aumento de impostos e a dificuldade de recorrer à banca são cada vez mais problemas que vão “rebentar” com a economia e impedir a criação de emprego. É necessário o regresso de políticas de desenvolvimento e apoio às empresas, com vista à criação de emprego, com redução da taxa social única, com majoração para as empresas do interior. A política de incentivos fiscais tem de ser de novo uma forma de cativar e incentivar o investimento, em especial nas regiões mais deprimidas. Desde António Guterres até ao segundo governo de Sócrates houve sempre uma política de interioridade, que foi extinta em janeiro de 2010, e que matou as possibilidades de o interior ter alguma forma de atração de investimento e de criação emprego. A partir daí, só as câmaras municipais criam emprego.

3. O desemprego é, por todo o lado, um flagelo. Ainda mais agravado em regiões deprimidas como a nossa, onde a expectativa de futuro não existe. O distrito da Guarda foi o único em Portugal que entre censos (2001-2011) perdeu população em todos os concelhos. Esta tragédia merecia um aprofundado debate e todas as partes, em especial os nossos dirigentes (desde logo os autarcas), deviam debater o problema e procurar, em conjunto, encontrar um caminho, uma dinâmica, que permitisse contrariar esta velha tendência de ninguém ficar no interior, de tudo encerrar no interior (no concelho da Guarda, o desemprego cresceu 15 por cento só no último ano) e as ofertas de emprego (criação de trabalho) baixaram em toda a região.

Luis Baptista-Martins

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