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Desemprego

Bilhete Postal

Que medo.

A história triste de saber que fecha a escola, que fecha a fábrica, que encerra o hospital.

As vidas que mudam e o esforço que se esvai. Cada porta que fecha constrói memória.

Sem pessoas não sobra o esforço, morre o elogio, apaga-se a dedicação que tive.

O desemprego

Mete medo.

Ficarão edifícios fechados, e as pedras não têm emoção. Corredores vazios, armários sem nada. No velho lugar onde ganhei a vida há uma ruina e uma dor. Cairá o teto, depois entrarão os morcegos pelas janelas quebradas. Dormirão por lá os pedintes que desistiram da sua história. Virão dormir protegidos os drogados. Um dia cairão as paredes e ficarão destroços como na Lisnave, na Triunfo e tantos outros lugares.

O desemprego

Matou-me cedo.

Condena-me a estar parado, a viver de um subsídio e a tentar mil vezes a sorte. Ela não quer, ela não chega ou ela é pequena. Somos tantos. A sorte virá depois do enterro do lugar, da limpeza do terreno. Vem depois de nos matar a paciência, de nos acalmar a revolta, de nos secar a força.

Um prego na parede

Com uma nota de medo

“não me deixes só”. Nunca deixei. Fui sempre ver como as coisas evoluíam. Ao fim de uns anos sobravam poucos vizinhos do lugar onde enterrei parte da minha vida. Poucos sabem já o que ali trabalhávamos, como ali houve gente feliz.

O desemprego

levou-me para longe.

O mau emprego tirou-me de cá.

Pelo emprego sem salário, abriguei-me do outro lado do mar.

Não terei fome na sopa de todos.

Não ficarei sem pontes ou ombreiras.

Terei frio e falta de banho.

Que medo!

Por: Diogo Cabrita

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