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“Desejo de Voar” soma e segue

Jornal da escola de Santa Zita, na Guarda, conquistou um segundo prémio e o galardão para o melhor cartoon no Concurso Nacional de Jornais Escolares do “Público”

E já vão seis prémios e menções honrosas para o “Desejo de Voar” no Concurso Nacional de Jornais Escolares promovido pelo projecto PÚBLICO na Escola, com o apoio do Ministério da Educação. Desta vez, o periódico da EB Santa Zita, na Guarda, conquistou, ex aequo, o segundo lugar na categoria destinada aos estabelecimentos dos ciclos iniciais do ensino básico e jardins-de-infância e o primeiro prémio para o cartoon/ilustração, da autoria de Luís Veloso, colaborador de O INTERIOR.

Mas no armário da biblioteca baptizada com o nome do jornalista Vergílio Afonso, já falecido, também lá está o prémio “Jovens Repórteres” atribuído em 2004 por Marcelo Rebelo de Sousa quando ainda era comentador da TVI. «Já é um jornal importante, ganha prémios e tudo», ironiza a coordenadora da escola, Maria de Fátima Silva, enquanto os seus improvisados jornalistas dão uma última vista de olhos aos trabalhos da edição que há-de estar à venda antes das férias da Páscoa. Em destaque há uma entrevista com Júlio Magalhães, director de informação da TVI, mas também trabalhos sobre o Carnaval, a Feira da Leitura e a tragédia da Madeira. O centenário da República, que é o tema deste ano lectivo no “Desejo de Voar”, e a cerimónia de entrega dos prémios, na FIL de Lisboa, são outras notícias de capa daquele que é o jornal mais galardoado da cidade.

Na redacção, o estatuto parece não impressionar. Antes pelo contrário, nenhum dos pequenos repórteres quer ser jornalista e a justificação é simples: «Ser jornalista dá muito trabalho e é preciso fazer muitas perguntas», sintetiza Íris, do 4º G. De saída no final do ano, a aluna já confessa, apesar de tudo, que vai ter saudades do jornal. O “Desejo de Voar” surgiu para incentivar a escrita e a leitura na maior escola do ensino básico da Guarda, com 183 alunos, e é hoje a sua imagem de marca. «Toda a gente conhece o nosso jornal na cidade», garante Maria de Fátima Silva. O que acontece graças a uma estratégia de venda personalizada, já que cada aluno encarregue-se de o fazer chegar às pessoas, pais e alunos principalmente. Mas não se pense que tem o mercado a seus pés: «Temos pouca publicidade e vivemos sobretudo das vendas, cuja receitas têm que dar para pagar a impressão de cada edição, cuja tiragem de 500 exemplares custa cerca de 450 euros», adianta a coordenadora da escola. «Infelizmente, este ano o prémio [2.500 euros] foi repartido por três jornais», lamenta.

Duas menções honrosas para “O Teixo”

Outro problema é a constante mudança de directores. Cristina Pires assumiu o projecto este ano lectivo, pelo que, além da sua turma, tem que dinamizar o jornal, o que faz sobretudo fora do horário lectivo. «Além da falta de tempo, não tinha experiência nesta área e no primeiro período andei muito desanimada. Valeu-me a ajuda da colega Ana Cardoso, que me antecedeu no lugar», conta. A professora, recém-chegada à Santa Zita, admite que o mais difícil nesta nova tarefa é excluir alguns textos. «Temos sempre muita matéria, porque o objectivo é envolver o máximo de crianças, individual e colectivamente. E até aparecem coisas muito giras», garante. «Neste projecto há uma ideia de integração dos alunos na escola através da escrita e da valorização do seu trabalho», acrescenta Maria de Fátima Silva, reconhecendo que aquilo de que mais gostam é verem as suas fotografias publicadas.

Com oito anos, o futuro do “Desejo de Voar” será o online: «Queremos ser mais arrojados nesta vertente [www.desejodevoar.com] para chegarmos mais facilmente a mais gente. Mas a edição em papel continuará a sair», acrescenta a coordenadora, que espera tornar o projecto «cada vez melhor». Esta edição do concurso, relativa a jornais publicados no ano lectivo de 2008/2009, premiou ainda “O Teixo”, do Agrupamento de Escolas do Teixoso, na Covilhã, com duas menções honrosas para a melhor capa e melhor aproveitamento dos recursos disponíveis. Curiosamente, ali lecciona o professor Carlos Carvalho da Costa, «o grande impulsionador do “Desejo de Voar”», recorda Maria de Fátima Silva.

Um concurso com currículo no distrito

Desde 1993 que vários jornais escolares do distrito são presenças assíduas no pódio deste concurso, em cujo degrau maior se instalou por três vezes o “Expressão”, dirigido há 20 anos por Joaquim Martins Igreja. O jornal da Secundária Afonso de Albuquerque (Guarda) – que obteve um terceiro lugar em 2004 – tem um percurso notável. Tudo começou em 93 quando conquistou o primeiro lugar na modalidade de jornal em papel, repetindo a façanha dois anos depois ao ser considerado o melhor jornal escolar a tratar as tecnologias da informação. No final da década de 90, o “Expressão” voltou a facturar mas na categoria de publicações electrónicas com a sua inovadora edição online. Um ano antes tinha sido o “Ecos da Nossa Escola”, da então C+S de Tourais/Paranhos, em Seia, dirigido por Graça Nunes, a arrebatar o primeiro lugar do escalão das EB 2,3.

Depois de um interregno, as atenções viraram-se novamente para a Guarda em 2002, altura em que o “Encontro”, o jornal do Centro Educativo do Mondego – mais conhecido por Colégio do Mondego, no Porto da Carne – coordenado por Paula Madeira, conquistou uma menção honrosa. No ano seguinte foi o “Desejo de Voar” a conquistar o primeiro prémio na categoria de jornais de escolas do ensino básico. No ano seguinte o periódico da Santa Zita ganhou novamente pelo seu grafismo e no ano lectivo 2005/2006 obteve o segundo prémio no primeiro escalão. Vieram depois duas menções honrosas nos anos seguintes. Habitualmente, estes meios de comunicação escolares apresentam sobretudo o relato das actividades do respectivo estabelecimento, dos acontecimentos que com ele se relacionam, da comunidade envolvente, entrevistas, secções de música e poesia, mas também alguma opinião. O objectivo de todos é serem um meio didáctico e de intervenção no meio em que se inserem.

Luis Martins Nenhum dos pequenos repórteres quer ser jornalista porque «é preciso fazer muitas perguntas»

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