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Desde que

CONJUNÇÕES

Desde que o sol decide sair até mais tarde, que desejo dar tudo por mais uns segundos ao calor, mais umas horas à mercê da primavera. Desde que a lua se perde de ciúmes nas longas horas em que não está, que fluo em sorrisos e imagino porque foi preciso esperar tanto tempo para o hoje chegar. E mesmo sabendo que o hoje é mais leve que o pólen que paira no ar, deixo-me perder nele e esqueço os espirros que estão para vir.

O calor chegou. Sinto os pés em brasa. Desde que troquei as sandálias por saltos altos que eles se queixam. Desde que achei que tinha chegado a altura de subir para as andas e desfilar na minha própria peça, que os dedinhos encolhidos tentam chegar a uma relação de entreajuda. Assim, caminho pelo ambiente amarelado e alaranjado que regressou nestes dias. Desde que a minha pele se voltou a bronzear, que quando o ar que se sente nas noites estreladas se torna abafado, ela, colada ao meu corpo, dá voltas, implorando por menos um cobertor na cama…

Já não tenho muito tempo para parar, mas também não quero. Desde que o calor rompa todos os pedaços de gelo que ainda pensem em vir, que não preciso de trapos para me proteger. Sinto-me eu, sinto-me eu há algum tempo. Desde um dia de sol distante, até aos dias quentes que se sentem por aqui, que me sinto uma bola de sabão, leve e despreocupada, como sempre deveria ter sido.

Deixo-me levar, sentindo cada vez mais cada passo que dou. Desde que tomei consciência que andar para o lado ou em frente é diferente, que caminho mais devagar, mas, desde que a caminhada seja segura e entusiasmante, percorro qualquer atalho.

Voando pelos dias, deixo-me levar, mesmo sabendo que será a última primavera em casa!

Inês Corveira Rodrigues (12º B)

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