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Desculpem lá o amor

Bilhete Postal

Desculpem lá o amor, desculpem lá essa força excessiva no abraço, desculpem mesmo o sorriso que me saiu rasgado, e desculpem o assobio no silêncio do corredor e desculpem mas a vida sabe-me bem. Nasci a gostar de viver, apesar das vezes que me mostraram a porta de saída, das vezes que me indicaram a rua, as vezes que me atropelaram com os projectos doutros, o ciúme ignóbil de muitos e continuei a gostar dos sorrisos e dos abraços e das festas e dos carinhos. Desculpem lá o amor que sinto pelos voluntários, os que trabalham apaixonados, os que se empertigam pelos direitos doutros, os que se batem por causas distantes. Desculpem lá não gostar do vosso egoísmo, não ser solidário com o vosso conforto, não estar disponível para a preguiça de poucos e o trabalho de alguns. E este desprezo que me notam é no fundo o amor que dou a outros sem limite. Sou incapaz de olhar sem tomar posição, sem fazer comentário, sem tomar partido, sem construir uma escolha. Isso é o amor e o sorriso, isso é a vida que me entusiasma, porque amar é escolher e viver. O fruto das escolhas é a distancia a indiferença e muito ódio, mas é também a avenida de amigos que nos acompanham na dor, na coragem e na luta. Escolher é opção, é marcar caminhos e só um é honesto. Odeio os consensos e sou feliz na caminhada. Desculpem lá o amor, mas vou seguir assim.

Por: Diogo Cabrita

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