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Descobrir a história na Sé da Guarda

Personagem de Pedro Henrique Teles guia os visitantes pela história da Catedral

Sexta-feira, 10h30 da manhã. Junto à Sé Catedral da Guarda, o sol ainda não fervilha. Nas escadas da entrada lateral, há gente. Chegam devagar, sem urgências a prender os passos. Sentam-se e olham uma Praça Velha, tantas vezes vazia de gente. No interior do edifício, esperam encontrar uma viagem de regresso ao passado. Partem rumo a uma época que não viveram e querem conhecer os segredos que as paredes teimam em guardar.

É ainda cá fora que a viagem começa. Não tarda muito e já uma voz de um outro tempo preenche a manhã: «O meu nome é Pedro Henrique Teles. Aproximem-se, quero-vos contar a história da minha casa». O cavaleiro está sepultado no interior da catedral, mas o ator André Amélio dá-lhe nova vida, no âmbito da iniciativa “Passos à Volta da Memória – Um Visita Encenada à Sé da Guarda”, levada a cabo pela empresa municipal Culturguarda. Nesta manhã de sexta-feira, estão cerca de 20 pessoas a assistir, quase todos visitantes fugazes na cidade. Ainda que apanhados de surpresa pelo humor nas palavras do cavaleiro Pedro, embarcam sem demoras na viagem, porque querem descobrir um tempo que não viveram. «Não estamos em 2011, não», diz o cicerone. «Falo-vos de quando aqui fui enterrado, mas atenção que eu não sou um inanimado», avisa. Ainda à entrada da Sé, começa por contar que foram precisos 150 anos para que o edifício se erguesse, na altura a mando de D. João I, o da boa memória, que em 1390 deu licença para a sua construção. «Sabem, é que já na altura havia as mesmas derrapagens financeiras que hoje conhecemos», ironiza o cavaleiro. Entre risos, guia os visitantes pelo exterior da Sé, ao mesmo tempo que explica que todo o edifício tem «um estilo gótico flamejante». Depois de desfazer o primeiro equívoco, explicando que a porta que quase todos pensam ser a principal é afinal uma entrada lateral, o cavaleiro mostra as famosas gárgulas, uma característica única da catedral. «Quem é que hoje poderíamos transformar em gárgula?», questiona.

«Há uma interação especial com as pessoas»

É no interior da Sé que acaba por revelar mais segredos. Mostra as capelas dos ferros e dos Pinas, fala sobre as abóbadas e nem a história dos retábulos fica por contar. Desvenda umas escadas subterrâneas que serpenteiam a terra até ao Convento de Santa Clara e guia os presentes até ao terraço, lá no alto, onde conhecem uma outra perspetiva da cidade. Pela Sé, corre ainda o som do Grande Órgão ou do clássico Ave Maria, um dos momentos que mais emociona quem aceita o desafio da visita. «Achei a visita fantástica, porque não estava à espera que fosse uma cidade tão antiga e para mim o momento em que ouvi a Ave Maria foi belíssimo, um presente divino», confessa Zélia Ramos, uma turista brasileira. Já Lilian Castelo Branco, outra turista, admite que gostou sobretudo «de subir ao terraço porque termina uma visita que nos emocionou». É ainda aqui, do alto da cidade, que Pedro Henrique Teles volta a ser André Amélio, o ator. Não é a primeira vez que trabalha na cidade, mas só agora teve a oportunidade de a conhecer melhor. Sobre a personagem que agora encarna, destaca a relação que acaba por estabelecer com quem acompanha as visitas. «Neste espaço magnífico, há uma interação especial com as pessoas, porque elas acabam muitas vezes por estar em cena, estão sempre dispostas a aceitar qualquer pergunta ou desafio que o Pedro Henrique Teles faça», garante.

Esta “viagem” tem conceção e coordenação geral de Américo Rodrigues, diretor do Teatro Municipal da Guarda, e foi encenada por Antónia Terrinha, partindo do texto de Pedro Dias de Almeida. As visitas encenadas à Sé da Guarda – gratuitas e sem necessidade de inscrição – decorrem até 31 de agosto, de terça a sexta-feira em horário duplo (10h30 ou às 16 horas) e aos sábados às 17h30.

Catarina Pinto ”Passos à volta da memória – Uma Visita Encenada à Sé da Guarda” decorre até 31 de agosto

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