1. «Novo Ano, vida nova!», é o axioma mais relevante deste período.
Olhando ainda para 2016, destacar que foi um ano de afirmação nacional (e de certa forma nacionalista) com a grande vitória da seleção nacional de futebol, no campeonato europeu, e a eleição de António Guterres para secretário-geral da ONU. Como já aqui escrevi, na longa história de Portugal, de mais oitocentos anos, 2017 foi uma dos anos mais notáveis da portugalidade.
Em termos regionais, poderíamos procurar destacar alguns detalhes positivos, que os houve, e que de resto escalpelizámos na resenha editorial e no resumo em capas e conteúdos na passada semana – assim como os mais negativos – mas é a desertificação, a fuga dos jovens, já não como um estigma, mas como uma tragédia pela falta de futuro, que marcam o tempo em que vivemos. No interior (mais 15 mil pessoas fugiram só nos últimos quatro anos).
Enquanto algumas câmaras continuam a gastar à tripa forra, para agradar aos que comem à mesa do orçamento, aos correligionários e amigos, vemos como pouco de estruturante e sustentável é feito nos territórios devastados pela demografia e pela falta de emprego. Por isso, e quando definitivamente se assume como desígnio nacional a necessidade de mudar o paradigma, a reabertura dos tribunais encerrados há dois anos surge como uma medida precursora de um caminho. Ou a requalificação da linha da Beira Baixa (Guarda-Covilhã) – que deverá estar concluída em 2019.
De resto, não tenhamos ilusões, sem investimento público, sem a abertura de serviços públicos (não apenas mantendo os que existem, mas abrindo novos serviços desconcentrados do Estado) e sem a administração pública a liderar a criação de emprego, não será possível inverter a tendência ancestral, e tão acentuada nos últimos anos, de abandono dos territórios do interior. A baixa densidade é isso mesmo, demografia reduzida, baixa natalidade, pouco progresso, emprego precário, resiliência e pobreza. Podemos continuar a dizer que se vive muito bem nas nossas cidades e vilas, podemos fazer festas muito animadas e gritar com os pulmões cheios de ar puro que aqui há qualidade de vida, que tudo não passa de uma alegoria, porque qualidade de vida é outra coisa, é ter emprego e bem remunerado, é ter as melhores condições de vida e acesso à cultura, à educação, ao desporto… ao que se quiser. Por isso, é urgente reivindicar um plano Marshall que permita investir estrategicamente nestes territórios abandonados. Porque cada vez devemos acreditar menos nos políticos e nos partidos, é urgente que os cidadãos se mobilizem e reivindiquem a descentralização e o desenvolvimento do interior.
2. Procurando contribuir para o debate público, para o enriquecimento Democrático e para a elevação da intervenção cívica convidámos um conjunto de personalidades da região para colaborarem com o jornal O INTERIOR a refletir sobre “Desafios para 2017” em pequenas reflexões que publicamos nas primeiras edições de 2017 (nesta edição e seguintes) – e a quem agradecemos a disponibilidade e extraordinário contributo.
Luis Baptista-Martins