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Depois da praia

Pontos nos Is

A “rentrée” vai agitando as bandeiras dos diferentes partidos a nível nacional. Os políticos vão regressando de férias e querem mostrar ideias frescas. Muitas vezes acabam por se repetir e, de facto, nada dizem de novo. Mas enfim, desde que Cavaco “inventou” os comícios pós-praia é todos os anos igual…

Se a nível nacional vemos como a maioria dos políticos teve pouco tempo para ir a banhos, a nível regional a “rentrée” não existe. Mais, os políticos da região – deputados, autarcas e companhia – andam completamente desaparecidos. Pior: muitos andam desaparecidos não por estarem em gozo de férias, mas pela completa inércia.

Durante o período de incêndios foi um verdadeiro corrupio de presidentes de câmara e vereadores a correrem, por entre os incêndios, à procura de alguma câmara de TV para identificarem as causas da tragédia. Foi vê-los, «cheios de razão», a acusarem o(s) Governo(s) de incompetente(s). Em bicos de pés disseram disparates atrás de disparates. Em nenhum momento assumiram a sua quota parte de responsabilidade na tragédia e razão não têm nenhuma. Os concelhos com maior número de incêndios são também aqueles onde as autarquias menos fizeram, ao longo dos anos, em prol da prevenção e planeamento da floresta. Têm tanta culpa como os Governos que, durante anos, negligenciaram o ordenamento do território. Neste contexto, o que vemos nesta “rentrée” é a repetição do «viciozinho bem político de repartir culpas», como escrevia no “Público” Eduardo Dâmaso.

Depois da catástrofe seria de esperar trabalho extra por parte dos nossos políticos com ideias e projectos a implementar com urgência. Mas não, não se passa nada. O efeito de erosão nas áreas ardidas tem de ser combatido antes das próximas chuvas. O assoreamento de rios e caudais de água tem de ser evitado. As barragens devem ser limpas. A proibição de construção nas áreas ardidas, devidamente legislada, deve ser cumprida. A regeneração da floresta pela própria natureza precisa da colaboração das autoridades. Não basta garantir ajuda a quem ficou sem nada. É preciso tomar medidas com urgência. Da parte do Governo, mas também das autarquias. A “rentrée”, na nossa região, devia ser uma evidência de esforço e capacidade para evitar tragédias no futuro. Não podemos ficar à espera que Lisboa resolva os nossos problemas. Temos que assumir, todos os cidadãos, que também nós somos responsáveis pelos problemas estruturais do interior do país e pela catástrofe dos incêndios.

Temos que assumir que a nossa falta de exigência, a nossa falta de indignação, a nossa passividade junto de quem exerce cargos públicos – locais ou nacionais – permite o desleixo e a incompetência com que todos saímos prejudicados.

Luís Baptista-Martins

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