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Dependentes e quejandos

Editorial

1. Acabou segunda-feira o prazo para a entrega em tribunal das listas das diferentes candidaturas às eleições autárquicas de setembro. Este é o período em que se aguarda a fiscalização e veremos quais as candidaturas que cumprem todos os requisitos legais e formais. E é também o momento certo para a Justiça analisar e pronunciar-se sobre a legalidade de listas com candidatos que esgotaram três mandatos noutra autarquia. Ou seja, depois do movimento “Revolução Branca” ter andado durante meses a requerer o impedimento de candidaturas, que formalmente ainda não existiam, é agora que ficaremos a saber se os tribunais aceitam ou não como válidas as mudanças de freguesia ou concelho de candidatos que levam 12 anos ou mais a exercer funções no poder local – e, neste contexto, o pedido do Bloco só faz sentido como pressão sobre os tribunais e num contexto de marketing político. Noutro contexto, os tribunais terão ainda de validar as candidaturas de “independentes” que por todo o país se apresentam a sufrágio (apenas no distrito de Viseu não haverá listas independentes a concorrer aos diferentes órgão autárquicos).

2. Na Guarda, Virgílio Bento levou a “caravana” até Pousade para tentar exibir a sua força também no meio rural. Sabe-se que é na cidade que o candidato consegue maior apoio, mas na apresentação, na freguesia de onde é natural o seu número dois Manuel Rodrigues, a candidatura “A Guarda Primeiro” sentiu-se em casa com um largo apoio popular. O ainda vereador eleito pelo PS na Câmara da Guarda confirmou o nome de Cidália Valbom como a terceira de uma lista onde o quarto é Segura Fernandes, um socialista que ingressou na Câmara da Guarda como vereador de… Abílio Curto e que depois de anos como técnico municipal regressa no papel de candidato a vereador – uma escolha pouco ambiciosa, e que pode sugerir um “regresso ao passado”, mas que revela um enorme sentido de oportunidade eleitoral: os votos de funcionários municipais e quejandos são assim mais fáceis de atrair. Em sentido contrário, Virgílio Bento errou ao levar como primeiro nome para a Assembleia Municipal Jorge Fonseca, uma personagem cinzenta e impopular, quando devia ter um nome forte, prestigiado e conhecido que funcionasse como uma alavanca para um movimento cuja sigla será um feliz “G”, mas que não tem máquina partidária para lutar nas eleições mais disputadas de sempre na Guarda. E tem outro problema: a apresentação de listas apenas em 15 freguesias, ainda que sejam as que têm mais eleitores, retira potencial e pode fazer perder votos. Os primeiros estudos de opinião podem dar vantagem à candidatura de “A Guarda Primeiro”, mas a falta de presença em mais de metade das freguesias fará perder força à candidatura.

3. Entre os comentários que se vão ouvindo sobre a organização e participação em listas a várias Assembleias de Freguesia a chantagem, as promessas de emprego e negociatas de bastidores são inacreditáveis. Diz-se que há “convidados” por partidos ou candidaturas à Câmara da Guarda, para listas a determinada freguesia, que chegam a exigir cheques como garantia do cumprimento de promessas a realizar na respetiva freguesia. Ou que têm de garantir emprego para o familiar tal, «na Câmara ou na empresa municipal». Ou que têm de evidenciar que não faltarão à palavra sobre a resolução de determinado problema legal ou formal… Enfim. A ser verdade, faz de muita desta gente que se alimenta e alimenta o poder local um verdadeiro clube de malfeitores. Seria bom que aqueles que não se revêm, nem alimentam esta selvajaria, denunciassem o que sabem junto do Ministério Público. Pelo menos para que não haja dúvidas sobre a idoneidade dos envolvidos.

Luis Baptista-Martins

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