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Delphi recebe novo contrato

Administração da empresa mantém intenção de despedir 540 empregados até Setembro

Durante cerca de um mês 21 funcionários da Delphi da Guarda estiveram na unidade de Tarazona (Espanha) e outros tantos podem seguir nas próximas semanas. À semelhança do sucedido há um ano – aquando da vinda da linha da Fiat da Roménia –, o objectivo desta operação é colocar a funcionar na fábrica da Estação uma nova linha de produção. Fontes contactadas por O INTERIOR adiantam que serão criados 150 postos de trabalho, mas a administração não comenta qualquer aspecto relacionado com a estada de trabalhadores em Espanha e as suas implicações. Inalterada está a situação dos 540 operários que deverão sair até Setembro.

Entre os funcionários que estiveram em Tarazona até à passada sexta-feira houve pelo menos um chefe de equipa e alguns polivalentes. De Espanha vem a experiência e uma nova linha de produção, destinada aos MPR’s. Trata-se de um produto “after sails”, direccionado para a reparação automóvel e não para a produção em série, como acontece com a restante actividade da empresa na Guarda. Com a fábrica de Tarazona praticamente encerrada – 350 pessoas ficaram sem trabalho –, a unidade da Estação «encontra-se numa mini-reconversão», segundo José Luís Besteiro, do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA). Para José Ambrósio, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas dos Distritos de Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra (STIMMDAVGC), «os MPR’s dão dinheiro, o que não é a garantia da permanência das linhas na Guarda». Para além dessa incerteza, o número de postos de trabalho criados não é proporcional à dimensão das alterações em curso. Ao que O INTERIOR apurou, esse número poderá ultrapassar os 150, mas dificilmente chegará aos 300 que ventilados actualmente na unidade fabril.

Na prática, os MPR’s já estão a funcionar e serão introduzidos de forma faseada. José Ambrósio adianta que a fábrica «está a meter pessoal». Paulatinamente, os trabalhadores efectivos em actividade na linha da Fiat serão transferidos para os MPR’s, de forma a que o trabalho destinado à construtora italiana seja assegurado por contratados, que deverão ser dispensados até ao fim do Verão. Para o sindicalista, «tudo leva a crer que não haverá despedimentos em Maio». Um dado mais animador que o acordado entre os sindicatos e a administração da empresa no ano passado, quando se previam despedimentos em três fases: 100 em Maio, 400 em Julho e 30 em Agosto». Contudo, o dirigente do STIMMDAVGC acredita que «a primeira fase pode não acontecer». Isto porque as empresas de recursos humanos estão a contactar trabalhadores e a contratar outros «para o turno B, pelo que, a haver despedimentos, já teriam de ser enviadas as respectivas cartas», concretiza.

Um dado que vai ao encontro das informações recolhidas junto da administração: «Em relação aos despedimentos não há qualquer alteração», confirmou a O INTERIOR o gabinete de relações públicas da Delphi Portugal. No entanto, algumas fontes contactadas admitem que «talvez seja possível adiar os despedimentos até Setembro e que, provavelmente, os números serão inferiores». Para continuar estão, a par dos MPR’s, as linhas da Ferrari, Mazeratti e Alfa Romeo, que empregam cerca de 300 trabalhadores, efectivos na sua maioria. Porém, há uma curiosidade associada aos MPR’s, é que todas as fábricas por onde passaram já fecharam. Tarazona foi a última.

Sindicato desafia Valente a anunciar alternativas

O STIMMDAVGC admite que a vinda dos MPR’s para a Guarda é «uma lufada de ar fresco», mas que não resolve o problema da Delphi. Entre os operários, o clima é de «insatisfação e incerteza quanto ao futuro», revela José Ambrósio, que vislumbra «uma nuvem negra a pairar sobre a Delphi». O dirigente sindical queixa-se que as promessas de alternativas para os despedidos ainda não foram concretizadas. «Há um ano, Manuel Pinho disse que havia 250 postos disponíveis em Castelo Branco, mas esses lugares já estavam ocupados. Em Maio tivemos uma reunião com a Câmara da Guarda, em que disseram que a preocupação era grande e que tentariam arranjar alternativas. Mas tudo continua na mesma», indica. Localmente, a alternativa seria a PLIE, «mas pouco ou nada se sabe a esse respeito». Neste contexto, José Ambrósio desafia Joaquim Valente a divulgar os nomes das empresas que se instalarão na Plataforma Logística. Entretanto, a incerteza quanto ao futuro e o medo de que fosse publicada legislação que comprometesse as indemnizações em caso de despedimento já levaram algumas dezenas de funcionários efectivos a negociar a rescisão dos seus contratos.

Igor de Sousa Costa

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