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Delphi despede 700 trabalhadores

Mais de metade dos postos de trabalho vão acabar com o fim dos principais contratos de produção

A Delphi vai dispensar mais de metade dos trabalhadores da fábrica de cablagens da Guarda até ao final do ano devido à «forte redução da actividade produtiva» naquela unidade. O despedimento vai abranger cerca de 700 funcionários, dos quais mais de 500 são efectivos e 176 contratados.

A medida foi anunciada, na passada sexta-feira, aos sindicatos e operários e vai ser concretizada por três vezes, em Junho, Setembro e Dezembro. Segundo o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), a redução dos postos de trabalho abrange de imediato os contratados a prazo, que serão os primeiros a sair. Já para os efectivos, o despedimento vai ser faseado e começa no final de Junho com a dispensa de 226 trabalhadores. Em Setembro sairão 173 pessoas e mais 125 no final do ano, num total de 524 elementos. «No total, esta medida envolve mais de metade dos postos de trabalho da fábrica, pois só continuarão cerca de 500 operários», refere José Luís Besteiros, delegado do SIMA, para quem esta reunião preparatória, em que participaram o director-geral de Recursos Humanos da Delphi Portugal e a directora daquela área na Guarda, foi «a confirmação do que temos vindo a dizer nos últimos meses». O sindicalista adianta que os argumentos apresentados para os despedimentos foram o final de alguns contratos de produção e a falta de alternativas.

«Até ao final do ano ficam apenas as cablagens para a Ferrari e Maserati, além de uma pequena parte da produção para o Peugeot 307», afirma. «Contudo, foi-nos garantido que a fábrica não fecha até ao final do ano e deverá continuar no próximo, embora tenhamos sido avisados de que o mercado das cablagens é muito imprevisível neste momento», acrescenta. Perante esta situação, José Luís Besteiros admite que já haverá «muito pouco a fazer, apenas o que for possível para salvaguardar os interesses das pessoas que saem e daqueles que ficam». Para tal, o SIMA vai tentar contactar com os responsáveis da Delphi Europa para salvaguardar alguns postos de trabalho: «Pensamos que, fazendo-se um esforço, seria possível continuar com mais gente, mas eles dizem que não», lamenta, garantindo que a unidade da Guarda «é uma fábrica modelo na estrutura da empresa e para os clientes». No entanto, a decisão é irreversível. Em comunicado, a administração confirmou que os despedimentos decorrem da «forte redução de actividade» na fábrica da Guarda e que é «a solução possível para manter a unidade a funcionar e evitar que seja deslocalizada para outro país».

«Drama» afecta cidade e distrito

Nesse sentido, a Delphi Portugal acrescenta que a decisão «impõe-se para adequar a capacidade à actividade disponível, não pondo assim em risco a permanência do fabrico de cablagens na fábrica da Guarda». Por outro lado, manifesta disponibilidade para «tentar minorar o impacto negativo» que a medida vai ter na região. «A Delphi está consciente de que esta não é uma situação fácil, mas está também disponível para tentar encontrar soluções que suportem os trabalhadores afectados por esta situação», garante no comunicado. Para José Luís Besteiros, «isto vai ser terrível para a região e sobretudo para o comércio da Guarda-Gare, que vai ressentir-se gravemente». Já o presidente da Câmara considera que se trata de «um drama que afecta a cidade e todo o distrito». No entanto, Joaquim Valente quer acreditar que haverá alternativas: «Há que encontrar, juntamente com o Governo, outros nichos de investimento, mas não é fácil criar novos postos de trabalho na conjuntura actual», receia. A Delphi é actualmente a principal empregadora da cidade, com perto de 1.200 postos de trabalho, onde se radicou em meados da década de 80, em instalações deixadas vagas pelo fecho de uma fábrica da Renault. Em Portugal há mais quatro unidades (Braga, Castelo Branco, Ponte de Sor e Seixal), que estão na corda bamba desde que a casa-mãe, nos Estados Unidos, declarou falência, em Outubro de 2005.

Luis Martins

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