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Delphi

Sabe-se desde 2005, ano em que se apresentou à insolvência, que a Delphi está em maus lençóis. Desde então tem vindo a tentar recuperar, seguindo o plano de reestruturação aprovado pelos credores, e a fazer os possíveis para fugir do encerramento definitivo. A recente crise financeira, que alastrou ao sector automóvel, a maior cliente da Delphi, veio prejudicar a convalescença da empresa no momento em que esta mais precisava de produzir e vender. Nos EUA a cotação da empresa está suspensa, depois de se situar, a dois cêntimos de dólar por acção, em mínimos de sempre (chegou a estar, em 2004, a mais de 9 dólares por acção) – e os analistas recomendam a venda a qualquer preço. A recuperação económica parece entretanto viver mais no discurso dos políticos do que no dia-a-dia dos mercados e a verdade é tão dura como isto: em 2008 evitaram-se os despedimentos na Guarda com uma encomenda de última hora que asseguraria a produção até ao final de 2009; o final de 2009 aproxima-se e a Delphi está a fazer o que tinha avisado que iria fazer: proceder aos despedimentos que tinham ficado adiados em 2008.

Queiramos ou não, estes despedimentos eram mais do que previsíveis, e desde há muito. Quando agora o presidente da câmara nos vem garantir que os trabalhadores vão receber “tudo aquilo a que têm direito”, significando com isso que irão receber as indemnizações previstas por lei, está a oferecer um fraco consolo. É que essas indemnizações equivalem a poucos meses de salário, um por ano de antiguidade na empresa, e são um péssimo negócio perante a única alternativa interessante: a manutenção do emprego. Quando acabar o dinheiro das indemnizações, quando terminar o subsídio de desemprego, será a comunidade no seu todo que será posta à prova e que deverá produzir os postos de trabalho em falta. Acredita Maria do Carmo Borges, a nossa governadora civil, que esses empregos irão surgir. Esperemos que sim, mas onde? (E onde estão as empresas que se iriam fixar na PLIE?) Honorato Robalo, coordenador da União de Sindicatos da Guarda e recente candidato à Câmara Municipal da Guarda dizia há dias à LUSA que exigia “do Governo e da administração da empresa a aplicação de «um plano integrado de desenvolvimento estruturado para criar medidas que evitem o despedimento» dos trabalhadores” (cito aqui, com a devida vénia, o blogue Sol da Guarda – em http://soldaguarda.blogspot.com/). Entendo desta enigmática declaração do responsável sindical que ele não quer que os trabalhadores sejam despedidos e que remete a solução do problema para a imaginação da empresa e do governo. Posso estar enganado quanto à interpretação, mas tenho a certeza de estar certo no resto: a insolvência da Delphi, o historial da empresa e as condições do mercado faziam prever que iria haver estes despedimentos e que viriam mais a caminho. Uma atitude responsável de todos, diferente do tradicional esperar pelo que acontece, “que logo se vê”, era urgente, mas a verdade é que nada indica que estejamos preparados para o que aí vem.

E é assim que ou se verifica o milagre por que ainda espera José Ambrósio, do sindicato dos trabalhadores atingidos, ou teremos graves dificuldades na Guarda a curto prazo.

Por: António Ferreira

Comentários dos nossos leitores
T T@sapo.pt
Comentário:
Caro Dr. sugiro-lhe que leia mais blogues que não só esse. Concordo com o seu Texto mas não dá grande novidade, não faz a crítica e o indipensável pedido à classe política para mostrar a sua capacidade. Mais lhe digo. Não entendo como pode um homem com a sua maturidade, passados tantos anos de luta pelas classes operárias e pelos seus direitos, ter virado a “casaca” e apoiar agora o PSD. Passar da esquerda profunda para a direita dos ricos não é mau, é péssimo. Mas como já alguém dizia, “há razões que a própria razão desconhece”. Pense nisto.
 

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