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Degradação do centro histórico da Guarda motiva queixa do Bloco de Esquerda

Dirigentes aconselham autarcas a visitarem “caso de sucesso” na vizinha Ciudad Rodrigo (Espanha)

O Ministério Público (MP) está a apurar eventuais ilegalidades ou irregularidades no centro histórico da Guarda, após o Bloco de Esquerda (BE) ter apresentado queixa junto do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e da Procuradoria-Geral da República, entre outras entidades. A acção é sustentada em testemunhos de moradores e comerciantes e nalgumas suspeitas dos dirigentes bloquistas. «Há relatos de situações preocupantes», disse Jorge Noutel, também deputado municipal, na última terça-feira durante uma conferência de imprensa.

«O que se passa no centro histórico é vergonhoso e revelador de algum desleixo por parte da autarquia naquele que é o “ex-libris” da Guarda», adiantou, considerando mesmo «calamitoso» o estado actual do “coração” da cidade. «É um tesouro mal amado e que tem sido deixado ao abandono, como o provam a sujidade, a degradação, o trânsito caótico e a falta de segurança que se ali vive diariamente», acrescentou. Jorge Noutel admite que esta situação é «lesiva do interesse público» e garante que a autarquia não tem feito aplicar devidamente o regulamento existente. «Alguém tem que ser responsável, porque os guardenses envergonham-se deste estado de abandono», afirmou, lamentando que a Câmara tencione implementar um sistema de “headphones” para visitas guiadas pelo centro histórico sem antes o requalificar. «Avançar com esse projecto é brincar com tudo, pois ninguém quer visitar um património degradado», criticou. O dirigente apontou o dedo à intervenção Polis, pois «as ruas estão pior agora», mas também à PT e à EDP, que «continuam a deixar à vista os cabos eléctricos e telefónicos, desrespeitando o esforço dos moradores que recuperaram as suas casas».

Muito contestada é igualmente uma moradia em construção junto à muralha: «Achamos que essa vivenda viola todas as regras previstas para a zona, mas caberá ao MP averiguar», disse, esperando uma decisão rápida e esclarecedora. «Aqui há de facto culpados e há que obrigar as entidades competentes a fazer cumprir a lei, pois o centro histórico não é só da Guarda, mas do país», insistiu. Também a construção do centro comercial Vivaci, na Avenida dos Bombeiros, está a deixar os bloquistas com receio de que a muralha venha abaixo: «Temos algumas dúvidas relativamente à segurança e estabilidade daquele pano», confirmou Jorge Noutel, enquanto António José Baptista sustentou que a Câmara «não tem estratégia, nem sabe zelar pelo seu património». Por isso, este dirigente do BE sugere aos autarcas da cidade uma visita guiada ao centro histórico da vizinha Ciudad Rodrigo para aprenderem a intervir com «profissionalismo e estratégia». De resto, considera que a intervenção na Praça Velha só revela «o amadorismo como tudo isto tem sido feito no centro histórico». Quem está tranquilo relativamente a estas suspeitas é Joaquim Valente. O presidente da Câmara da Guarda garante que «todos os projectos e obras são do conhecimento do IPPAR, que tem acompanhado a sua execução, e estão em conformidade com as regras». Por outro lado, a intervenção em curso está «ao nível de outras cidades, mas, muitas vezes, valoriza-se mais o que se faz fora da Guarda. Contudo, acho que, rapidamente, os guardenses apreciarão e avaliarão como positivo o trabalho que está em curso naquela zona nobre da cidade», sustentou.

Luis Martins

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