Novo capítulo no julgamento de Marcelo Fernandes, que prossegue hoje de manhã no Tribunal da Guarda. O advogado de defesa do arguido, que, em finais de 2008, assassinou a mulher com uma arma branca, entregou duas agendas pessoais da vítima na última sessão, realizada na semana passada.
O anúncio da posse das duas agendas relativas aos anos de 2004 e 2005 foi feito perto do final da sessão e apanhou toda a gente de surpresa, inclusive o presidente do colectivo de juízes, que estranhou ser o advogado de defesa o detentor de «objectos que pertenciam à vítima». José Martins Igreja explicou então que as agendas foram encontradas na casa do casal pela irmã do arguido, por altura do Natal do ano passado. Segundo o advogado, que requereu a junção aos autos daqueles documentos, as agendas «atestam que a vítima beneficiava de liberdade», revelam «um conjunto de situações de que o arguido só teve conhecimento no Natal de 2009» e que «contrapõem a tese de algumas testemunhas». No entanto, o defensor da família da vítima impugnou o requerimento apresentado pelo arguido, tendo o juiz concedido o prazo de cinco dias para as agendas serem analisadas. Já o Procurador do Ministério Público mandou comparecer a irmã do arguido, mas em virtude desta trabalhar em Andorra, o pedido foi rejeitado por a sua inquirição protelar o julgamento por mais tempo.
Antes, tinham sido ouvidas várias testemunhas. Sérgio, de 28 anos, residente em Chaves, e amigo de Marcelo desde os 6 anos, garantiu nunca se ter apercebido de «qualquer problema entre o casal» e que viu «sempre uma grande dedicação dele aos filhos». Já o padrinho de casamento, Raúl Alves, garantiu que o arguido é um homem «responsável, respeitador e educado», revelando ainda que «nunca» deu conta de nenhuma discussão entre o casal. Mais polémico foi Elói Feijó, outro amigo do arguido, para quem Marcelo era «uma pessoa adorável, um grande homem e um bom amigo dos filhos». O antigo militar da GNR, actualmente na reserva, considerou mesmo tratar-se de «um homem que não queria admitir certas coisas. Não abria o jogo porque tinha vergonha. É fácil ser corno, o difícil é manter a vaca», reforçou, numa afirmação que desagradou ao presidente do colectivo de juízes. A última testemunha inquirida na última quinta-feira foi Lúcia Gomes, que «só conhecia Marcelo de vista».
A colega de trabalho e amiga de Sandra contou que a vítima «estava a adivinhar o que ia acontecer [no dia em que foi assassinada], porque ela chegou à rua e voltou para trás quando viu o marido com o carro». Acrescentou ainda que Sandra «estava sempre a chorar, muito nervosa e dizia que tinha saudades dos pais e da família». Lúcia Gomes contou igualmente que, já depois desta conversa ter decorrido, a vítima apresentou-se com «uma negra na cara e uma arranhadela no pescoço», sublinhando que não tinha memórias de momentos de felicidade, recordando a antiga colega como «uma pessoa sempre triste». Marcelo Fernandes, cidadão brasileiro, mas filho de portugueses naturais de Chaves, está acusado dos crimes de homicídio qualificado, cuja moldura penal é de 12 a 25 anos, e de violência doméstica. A defesa sustenta que o que se passou deve ser considerado homicídio privilegiado, à luz do artigo 133.º do Código Penal, punido com pena de prisão de um a cinco anos. O caso remonta a Novembro de 2008 quando Sandra Fernandes, de 31 anos, foi esfaqueada até à morte pelo marido durante uma discussão.