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Debate “morno” sobre as maternidades

A discussão foi mais técnica do que prática. E os políticos faltaram à chamada

Na noite de segunda-feira, no auditório municipal da Guarda, discutiu-se a reorganização da rede materno-infantil. O convite foi feito pela delegação distrital da Ordem dos Médicos, mas à chamada só compareceram médicos e enfermeiros, poucos cidadãos e, estranhamente, nenhum político. Com excepção de Pedro Pires, em representação da Governadora Civil da Guarda. Por isso, o debate acabou por ser mais técnico, mas não deixou de ser polémico.

O Bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, que andou numa espécie de “presidência aberta” pelo distrito durante dois dias, escutou todas as opiniões. Apesar da OM preferir não tomar o partido de nenhuma maternidade, o responsável considera que «ninguém devia sair das terras onde vive para procurar os serviços mínimos de saúde». Admitiu, por isso, que «para além dos pareceres técnicos, também deve pesar a localização geográfica». José Manuel Silva, presidente do conselho regional da OM, foi mais longe por temer que esta «reorganização seja aplicada a outras especialidades e, levando a situação ao extremo, poderão acabar todos os serviços do interior. Aí, vamos todos viver para a praia», ironizou. O médico considera que a temática não está a ser discutida de forma «transparente», porque os dados da Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal deviam ser públicos «para sabermos onde estão os problemas e aplicar soluções». Mas haverá outro problema: «Agora vai aumentar o corrupio das grávidas nas ambulâncias, que vão deixar de poder socorrer casos de verdadeira urgência», sublinhou. Para José Couceiro, presidente do conselho distrital de Coimbra da OM e director clínico do Hospital Distrital da Figueira da Foz, não há relatórios perfeitos, mas «custa-me aceitar pretensos relatórios técnicos que propõem o encerramento de serviços, sem uma visita in loco».

Sobre os critérios definidos, disse ter a sensação de que «só se pretende questionar os serviços a encerrar, pois há critérios não cumpridos até nos centros que são referência nacional». Depois de lançadas algumas “farpas”, a assistência, cerca de meia centena de pessoas, participou no debate que se prolongou pela noite dentro. Manuel Simões, radiologista no Hospital da Covilhã e do Movimento Cívico da Guarda, considerou que uma maternidade «é pouco para uma região tão vasta, exige-se duas no mínimo». Também o director clínico do Hospital Sousa Martins (HSM), Luís Ferreira, interveio para acrescentar que a maternidade da Guarda cumpre todos os critérios, com excepção no número de partos, mas que «há outros blocos de parto com menor número que vão ficar abertos», estranhou. Já o médico Matias Coelho, também do Movimento Cívico, defendeu a complementaridade dos três hospitais e apresentou, pelo menos, uma razão para a serviço continuar aberto na Guarda: «O distrito vem desde do Douro e é, por isso, uma região muito vasta, com sérias dificuldades de acessibilidade», sustentou. A discussão ficou mais acesa quando o médico António Pires referiu que a Covilhã tinha «melhor diferenciação técnica e diagnóstico precoce». A partir daí todos quiseram intervir para refutar o que uma enfermeira classificou de «mentira». «A diferenciação técnica da Covilhã é exactamente a mesma que existe na Guarda», rebateu Manuel Simões. Por último, o director da Obstetrícia, Alberto Duarte, apresentou os números de 2004, que demonstram que «o maior número de fetos mortos registados no HSM aconteceu antes do parto». O especialista considera que se está “a apostar no cavalo errado”: «Devia haver uma maior vigilância durante a gravidez», sugeriu.

Patrícia Correia

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