Uma multidão num passeio de uma rua qualquer numa cidade sem nome olha, atónita, um marido violento a agredir a esposa. Todos param, alguns viram a cara para o lado e outros aproximam-se. Ela grita e agora sangue escorre-lhe do nariz. O bruto está furioso e a mão sobe e desce com força ouvindo-se uns embates secos na mulher que grita e tomba no chão. Os transeuntes são agora muitos e estão em torno da violência que os leva a falar. Dois homens agarram o bruto que estica a perna e bate no filho. O menino dobra-se e tomba no chão. O silêncio substitui a crítica. Chama-se Teodoro o homem que agredia a mulher e agora o filho de seis anos no chão. O povo em volta já não é o mesmo que assistiu surpreso à força da contenda. Agora as mulheres incitam os maridos e estes insultam Teodoro e empurram o bruto rodeado de todos os lados. Vem mais ente saber do animal que quase mata a mulher e o menino. Teodoro já não tem raiva, tem medo. Teodoro sangra da força da turba que o agride. Teodoro foge pelo passeio sob a força das chinelas e dos sapatos e agora das pedras que lhe atiram. Teodoro cai e não mais agredirá a esposa nem o menino que se levanta confuso e chora. A mãe que sangra do nariz e tem equimoses pelo corpo chora com o filho nos braços. Teodoro jaz numa rua de uma cidade qualquer.
Uma das energias mais impressionantes dos seres humanos é esta violência da turba que se zanga, se enraivece e explode. Invadem os campos, aplicam justiça pelas suas mãos, queimam os traidores, matam sem piedade. Um grupo de pessoas fica tomado por um impulso colectivo violento e promove uma acção demolidora. Esta passagem de uma reunião a uma desordem não tem nome técnico. É um rompante emocional que pode ser despertado pela violência de alguém, pelo futebol, ou por ínfimas questiúnculas públicas. O monstro em que todos se tornam um e desferem a morte sobre alguém é aterrador e pode surgir em qualquer lugar em que circulem milhares de pessoas.t
Por: Diogo Cabrita
