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De políticas a motoristas, mulheres que vingaram no “mundo” dos homens

As mulheres conseguiram o seu lugar na sociedade e hoje desempenham funções outrora associadas aos homens – por exemplo, Cidália Valbom e Ângela Guerra são presidentes da Assembleia Municipal da Guarda e Pinhel, respetivamente. A propósito do Dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, O INTERIOR falou com quatro mulheres que assumem cargos de chefia ou trabalham em locais onde os homens continuam em maioria.

Alexandra Alonso foi a primeira motorista efetiva na corporação da Mêda

Há quem diga que mulher ao volante é sinal de perigo constante, mas Alexandra Alonso é a prova de que conduzir bem não é só coisa de homens. Entrou para os Bombeiros Voluntários da Mêda há cerca de três anos e, no final da época de Equipas de Combate a Incêndios (ECIN) do ano passado, foi convidada a ficar como motorista.

Na altura a trabalhar numa empresa agrícola, Alexandra Alonso ficou «um bocadinho reticente», mas acabou por aceitar o desafio. Mas num “mundo de homens” não terá sido discriminada por ser mulher? «Não, pelo contrário», responde a motorista, que diz sentir-se bem no meio dos colegas. «Quase todas as corporações já vão tendo mulheres, mas é um número pouco significativo», lamenta a jovem de 24 anos, que foi a primeira motorista efetiva na corporação da Mêda. «O que me surpreendeu bastante é que tenho ouvido que preferem andar comigo porque a condução é mais cuidadosa e segura», revela a bombeira, cuja principal dificuldade é a falta de força, principalmente «quando se trata de transportes de pessoas com pouca mobilidade».

Nunca esqueceu o seu primeiro dia de trabalho e descreve-o como marcante: «Telefonaram-me um dia antes para marcar o serviço. Foi para Coimbra, num dia em que chovia torrencialmente. O doente era um senhor de cadeira de rodas que tinha que ser transportado numa maca e ia para uma clínica privada, que eu nem sequer sabia onde ficava», recorda Alexandra Alonso, dizendo que no final da viagem foi recompensador, pois o paciente agradeceu-lhe «por tudo». Atualmente já nem a “falta” de força é um obstáculo, pois a motorista confessa que foi arranjando «métodos e estratégias» para compensar, nomeadamente «apoiar um bocadinho mais com o joelho ou puxar a maca de outra maneira».

Duas militares da GNR com 20 anos de casa que nunca sentiram discriminação

O Comando Territorial da Guarda tem neste momento 23 mulheres e 608 homens. Apesar do género feminino estar em minoria, isso não é motivo para discriminação. Que o diga Isabel Fernandes, que desempenha funções no Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), mais concretamente no Núcleo de Análise e Coordenação Técnica Ambiental (NACTA), e Elisabete Sanches, cuja especialidade é Administração Militar e exerce funções na secção de recursos logísticos e financeiros. Com 20 e 22 anos de carreira, respetivamente, antes de chegarem à GNR ambas passaram pela tropa que dizem ter sido a sua escola: «A nossa ligação com esta área começou na tropa e isso fez com que a adaptação aqui também fosse mais fácil», afirma a sargento ajudante Elisabete Sanches, de 46 anos e natural do Sabugal, que recorda o tempo da recruta como o mais difícil «em termos psicológicos».

O gosto pela área surgiu com o tempo, mas nenhuma das militares sonhava seguir este caminho. Com 43 anos e natural de Manteigas, Isabel Fernandes admite que prescindiu de uma possível carreira como enfermeira em prol da farda: «Quando estava na tropa concorri à Escola de Enfermagem e entrei», lembra a militar, que não se arrepende de ter optado pela GNR. E o que é que uma mulher pode fazer diferente? «Temos outra sensibilidade e encaramos as coisas de outra forma. Acho que em qualquer situação conseguimos dar mais a volta ao contexto, somos mais ponderadas», considera Isabel Fernandes. A sargento ajudante concorda e diz mesmo que os homens, «na nossa presença, são mais ponderados e têm outro tipo de cuidado na linguagem ou na postura». Ainda assim, as militares garantem que «sempre fizemos o mesmo» que eles: «Conseguimos desempenhar bem a nossa função. Não acho que por sermos mulheres somos mais fracas», defende Elisabete Sanches.

Quando entraram para a GNR não era habitual verem-se mulheres e sentiram alguma admiração por parte da sociedade. Isabel Fernandes lembra até uma «situação engraçada» que viveu quando estagiou em S. Pedro do Sul: «Fomos fazer uma patrulha a uma aldeia e um senhor, já com alguma idade, virou-se para o colega que estava comigo e procurou-lhe se os homens já usavam brincos», conta a rir. O que não é pera doce é conciliar a vida profissional com a pessoal. Casada e com uma filha de 15 anos, Isabel Fernandes admite que «não era fácil» quando andava nas patrulhas: «Cheguei a deixar a minha filha às seis da manhã na escola e ir buscá-la às 20h30», lembra. Já Elisabete Fernandes não tem esse problema, pois é solteira e não tem filhos, mas confessa que tenta «sempre estar perto da família».

Teresa Cabral, a mulher que virou presidente de Junta… pela segunda vez

Será uma candidatura autárquica liderada por uma mulher sinónimo de derrota antecipada? Eleita com 48,26 por cento dos votos, Teresa Cabral é a prova que ser mulher não impede a entrada na política e assume, pela segunda vez, as rédeas da Junta de Freguesia de Meios (Guarda).

Durante a campanha nunca sentiu antipatia por parte dos cidadãos e afirma que, para os habitantes daquela freguesia, «a competência está em primeiro». Mas será este o único fator decisivo? «As mulheres têm mais sensibilidade e perseverança para lidar com a população e os seus problemas», sublinha Teresa Cabral, que admite ter alguma dificuldade em conciliar a vida profissional com a familiar. «Com esforço tudo se consegue. A parte mais sacrificada é sempre a família», lamenta a autarca, asseverando que gerir uma Junta «dá muito trabalho». Ainda assim, o amor pela terra faz com que Teresa Cabral sinta «a obrigação» de lutar pelo seu desenvolvimento: «As nossas receitas são muito limitadas, é preciso uma gestão rigorosa e controlada para fazer face às despesas correntes e conseguir ao mesmo tempo amealhar algum dinheiro» para realizar obra, afirma a autarca.

Sara Guterres

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